domingo, 23 de agosto de 2015

Paula Hawkins - A Garota no Trem

A Garota no Trem - Um dos maiores fenômenos editoriais dos últimos tempos, o thriller psicológico The Girl on the train, de Paula Hawkins, surpreendeu até mesmo seus editores e a própria autora, nascida e criada no Zimbábue, que vive em Londres desde os 17 anos: em menos de um mês, o livro – que vem sendo comparado pela crítica a uma mistura de Garota exemplar e Janela indiscreta – ultrapassou a impressionante marca de 500 mil exemplares vendidos e alcançou o primeiro lugar nas listas de mais vendidos em todos os países em que foi publicado (Reino Unido, Irlanda, EUA e Canadá) desde seu lançamento em janeiro. A trama, que gira em torno do desaparecimento de uma jovem mulher, com três narradoras femininas duvidosas, conquistou fãs como o mestre do mistério Stephen King, que publicou em sua conta do Twitter que o “excelente suspense” o manteve acordado a noite inteira: “a narradora alcoólatra é mortalmente perfeita”. 
O livro segue uma linha de recentes sucessos literários de uma nova geração de autoras que vem redefinindo as convenções do gênero policial, com personagens femininos complexos que fogem do estereótipo de vítimas ou megeras, e tramas que criam suspense a partir de evoluções psicológicas sutis e dinâmicas ardilosas do casamento e relacionamentos. Com os direitos vendidos para 37 países e uma adaptação para o cinema em andamento pela Dreamworks, o romance será publicado no Brasil pela Editora Record em junho, com o título A garota no trem.

***

O livro tem um começo e um final espetaculares... mas confesso que senti um certo arrastar-se na parte do meio, só não acho que chegou a 4 estrelas por causa disto.
A personagem principal, Rachel, é uma heroína controversa. No começo a gente morre de dó dela, dá para sentir intensamente suas emoções, decepções, dores, ressentimentos - enquanto a história é narrada pelo seu ponto de vista. 
Ela vem e vai de Londres até a cidadezinha onde trabalha, em viagens diárias de trens. Sua distração é observar as casas existentes na beira da estrada de ferro. Tentar imaginar o que há atrás de cortinas fechadas, portas entreabertas e viajar nas vidas, dores e amores que possam se desenrolar dentro daquelas paredes. Concentra especial atenção à um certo trecho, descobrimos depois que ela já morara naqueles arredores, e que seu ex-marido (de quem se separara dolorosamente há 2 anos) vive ali com sua atual esposa e filha. Rachel é uma pessoa problemática. Extremamente presa a laços, ilusões e anseios passados, sente-se acorrentada e constantemente dilacerada na roda da tortura eterna que foi o seu processo de separação e divórcio... além disto ela uma alcoólatra, o que faz com que o leitor tenha constantemente ganas de entrar no livro e lhe dar um chacoalhão para ver se ela cai na real e para de fazer merda. Ao lado da casa que era dela (e que atualmente o ex-marido brinca de família feliz com a mulher com quem a traiu, enquanto estavam casados) mora um jovem casal, a quem Rachel, todos os dias consegue ver em horário certo na varanda, interagindo amorosamente um com o outro. Rachel logo inventa uma linda história para eles, em sua mente, dá-lhes nomes e características de personalidade, inventa profissões, afazeres, preocupações, tudo naqueles ínfimos intervalos quando o trem para no sinal em determinado ponto de sua viagem. O interessante, na verdade, é que apesar de Rachel enganar a si mesmo de que seu interesse real é o casal inventado Jess e Jason, seu coração e sentidos estão todos voltados para a casa ao lado, ao casal ao lado. É um interessante mecanismo de transferência, fuga do olhar-ou-não-olhar, ao qual ela está presa em sua mente ferida.

** Confesso que, particularmente, esta fase do livro para mim, foi dolorosa de ler. Me senti totalmente imersa na dor e no sofrimento dela. Em minha outra vida, vivi algo semelhante, e declaro que, com toda certeza, após uma separação devia ser obrigatória uma ruptura TOTAL. Passar em frente à antiga casa, ou vê-la a distância (ainda mais quando a outra metade da laranja podre ainda lá reside), torna totalmente impossível fazer as pazes com a ruptura, impede que a ferida cicatrize. Ela sempre sangra. E isso ninguém merece. Eu chorei com a Rachel em várias dessas passagens. Chorei mesmo. ***
Mas voltando aos amigos íntimos de Rachel, Jess e Jason. Durante meses, Rachel acompanha a vida dessas duas personagens que levam a vida que ela queria ter. Um casal perfeito, apaixonado, bonitos e felizes em uma casa sólida, numa bonita vizinhança. Perfeitos. Sóbrios.
Em certa altura, ela deixa de ver Jess. Um dia, dois dias, o trem passa por lá e não vê nada... Logo os jornais noticiam o desaparecimento de uma mulher, e ela vê que a "sua" Jess, chama-se Megan, e o marido, não é Jason, e sim Scott. Envolvida como se sente por eles (como ela sente que "os conhece") ela acaba envolvendo-se na investigação do desaparecimento daquela conhecida-desconhecida, deparando-se com mistérios e segredos que jamais desconfiaria.

O livro divide a narrativa em três pontos de vista. Ora temos o ponto de vista de Rachel, ora o de Megan, ora o de Anna (a atual esposa do ex-marido de Rachel). Através das páginas vemos que ninguém presta. Sério. É difícil solidarizar-se com alguém ali (acho que tive mais do da amiga Cathy de Rachel do que de qualquer um ali... tudo pão bolorento, como diz o ditado - rsrs) Mas Rachel é nossa heroína, e apesar de vê-la páginas após páginas fazendo merda (estilo não vou mais beber --- cai de bebada --- não vou mais beber --- cai de bêbada) ainda nos pegamos torcendo por ela. Um dos problemas e que dá aflição acompanhar na parte mais arrastada é justamente que algumas chaves para o mistério estão ocultas sob a nuvem de um apagão de embriaguez da Rachel. Então, nós, leitores somos arrastados por várias situações confusas, incertas e cheias de "será que eu vi isso mesmo?". É um recurso legal, claro. Mas eu sinto que a autora exagerou um pouco e me vi várias vezes exasperada, com a impressão de que esse livro não ia acabar nunca - rsrs.
Porém, mais para o final, o livro retoma o ritmo e o desfecho é muito legal.
Confesso que eu já suspeitava desde o princípio. Não dos "como", só fazendo uma ligeira ideia dos "porquês", mas definitivamente sabia o "quem". O que não me impediu de ser carregada daqui para ali com as dúvidas que a autora plantou no decorrer da história...

sábado, 22 de agosto de 2015

Wave Winter Festival - SP - 29/08/2015

Em fevereiro fiz um post sobre o Wave Summer Festival, aquele festival alternativo fabuloso que aconteceu em Cotia, cheio de bandas internacionais fantásticas (Das Ich, Ataraxia, Merciful Nuns - nem acredito que conseguir tirar uma foto com a Francesca Nicoli, gente!) e bandas nacionais idem.... Quem não lembra, postei aqui.


Para (não) falar em livros desta vez, volto a falar de outra de minhas paixões: música, porque daqui a sete dias acontecerá a edição de inverno do Festival da Wave, o Wave Winter Festival...




O formato deste festival é inovador aqui no Brasil, pois vai rolar em 4 locais. Começa no Carioca Club e depois continua nos clubes Madame (antigo Madame Satã/Morcegóvia), Templo Club e The Atmosphere. Esses clubes ficam 5 minutos a pé um do outro e será possível circular livremente entre eles. 

No Carioca a festa começa as 13h (abertura da casa discotecagem) e as 14:30 primeiro show. O local fica 300m do metrô Faria Lima e tem toda estrutura destinada a shows. Lá tocam:

Skeletal Family

E rola também discotecagem entre os shows e feira alternativa.
As 21 horas, o festival continua nos 3 clubes da Bela Vista e entre shows, discotecagens e autógrafos a festa vai até as 6 da manhã... São 17h seguidas de festa!!!
E as bandas que vão tocar na segunda etapa do evento são:
Vão rolar nas três casas 4 shows + 6 sessões de autografo, além de discotecagem a noite toda, inclusive com os integrantes das bandas Skeletal Family, The Frozen Autumn e Invincible Spirit como dj's e além de pegar autografo estará disponível merchandise oficial das bandas para compra.
É festa que não acaba mais. Os shows foram organizados e os horários distribuídos de forma que o público possa assistir a quase todos (só os últimos é que ficaram meio encavalados, mas está valendo!)
Para mais informações, horários, preços e demais condições, acessem o site oficial do evento.


Estarei lá, na primeira fila, agitando pompons para a fantástica banda do meu marido, o In Auroram... quem não conhece, é essa maravilha dos vídeos abaixo <3   Mas também sei que vai ser incrível ver The Frozen Autumn e Harry. As outras bandas, não conheço muito (mas vai ser bom conhecer!)






quarta-feira, 19 de agosto de 2015

DarkSide Books anuncia lançamento de Hellraiser - Renascido do Inferno

Novidades da Editora DarkSide Books  \o/


OS CENOBITAS ESTÃO CHEGANDO.



Escrito em 1986, HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO apresentou ao público os demoníacos Cenobitas, personagens criados por Clive Barker que hoje figuram no seleto grupo de vilões ícones da cultura pop como Jason, Leatherface ou Darth Vader. Toda a perversidade desses torturadores eternos está presente em detalhes que estimulam a imaginação dos leitores e superam, de longe, o horror do cinema.

Clive Barker escreveu o romance HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO (The Hellbound Heart, no original) já com a intenção de adaptá-lo ao cinema. O cultuado filme de 1987 seria sua estreia na direção, e ele usou o livro para mostrar todo seu talento como contador de histórias a possíveis financiadores. Nas palavras do próprio Barker: “A única maneira foi escrever o romance com a intenção específica de filmá-lo. Foi a primeira e única vez que fiz assim, e deu resultado”.

De leitura rápida e devastadora, HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO conta a história de um homem obcecado por prazeres pouco convencionais que é tragado para o inferno. Inspirado nas afinidades peculiares do autor, o sadomasoquismo é um tema constante em sua arte.
Se você é fã de Clive Barker, precisa ler sua primeira obra-prima. O mestre sombrio finalmente chegou à DarkSide®.

Para matar os desejos de todos os fãs, e prontos para comemorar os 30 anos de seu lançamento, HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO chega às livrarias em duas edições como só a DarkSide® Books sabe fazer: Limited Edition (capa dura) e Classic Edition (com a revolucionária capa com book frame®).

Preparem os bolsos galera... esse lançamento está matador.
Previsão para Setembro/15.

Fonte: http://www.darksidebooks.com.br/hellraiser-renascido-do-inferno/

domingo, 16 de agosto de 2015

It, A Coisa -- Stephen King

Por falar em livros...

Semana passada terminei a leitura de It - A Coisa, de Stephen King. É um livro de 1.102 páginas (a edição anterior, da editora Objetiva era desmembrada em dois volumes mais finos, nesta edição mais atualizada, a Suma juntou os dois livros em um volume só e a tradução foi revista). Particularmente, gostei bastante da tradução da Regiane Winarski, a leitura flui super bem (tem erros, teeeem, mas poucos que eu tenha visto) e terem mantido o nome do palhaço Pennywise, no original, ao invés do intragável Parcimonioso da edição anterior, é uma grande vitória. (Ok ok, eu sei que não é errado, que era correto - Penny = centavos ; Wise = sábio ; Pennywise = o que é sábio com centavinhos, ou seja, quem é Parcimonioso com seus gastos, mas whatever! soava mal para caramba!)
Quando do relançamento, eu havia comprado minha edição em uma promoção daquelas imperdíveis, e desde então ele estava aqui, lacrado e aguardando ânimo para início da leitura. 


Como sabem, mudei de emprego há uns três meses e agora já não faço mais aquele trajeto a pé de 7 km por dia (ida e volta), agora dependo de trólebus + ônibus, o que, no final da tarde, me proporciona pelo menos quarenta minutos em pé, no ponto de ônibus esperando o velho 006 chegar ao T. Piraporinha para poder me levar para casa. Ao invés de ficar praguejando contra minha sorte de não ter um carro, e contra a demora e atraso diárias do busão, ando sempre com um livro na mochila, para poder aproveitar ao máximo esses inevitáveis minutos de espera. Decidi fazer isto com com It, apesar do peso e funcionou bem, porque consegui ler em cerca de vinte dias.

"Durante as férias escolares de 1958, em Derry, pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança e... do medo. O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry. Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike Hanlon, o único que permanece em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry. O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa. Em 'It - A Coisa', clássico de Stephen King em nova edição, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites".


Aviso aos navegantes: a resenha abaixo pode conter spoilers. Estou tão envolvida com a história e tão apaixonada por ela que não consigo analisar se estou revelando mais do que deveria para o conforto de alguém que não conheça a história. Continue a ler por sua conta e risco...

Bom, sobre o livro em si: É incrível. Vejo muita gente reclamando que é prolixo, que é enrolado, que demora demais para chegar ao ponto, que o final é tosco e deixa a desejar (vide o filme), mas confesso que amei cada página. Não consigo imaginar nenhum capítulo ou passagem que pudesse ser suprimido para facilitar a leitura. Capítulos se alternam entre passado e presente e são usados diversos pontos de vista da narrativa (já sabem que adoro!). Alguns mistérios insinuados no decorrer das páginas, só são revelados nas últimas páginas, talvez isto reforce a impressão de "enrolação", principalmente para quem demora meses para terminar a leitura, mas quanto a mim, não pensei isto em nenhum momento.

O livro conta a história de um grupo de amigos pré-adolescentes, que em 1958 não são nada populares, e sofrem nas mãos dos valentões da escola, em Derry, Maine. Temos o Gago, o Gordo, o Asmático, o Judeu, o Negro, o Bocudo e a Garota. Ao longo das páginas, vemos que até a própria Derry, com suas incongruências e seus picos de violência desenfreada é um importante personagem da história. Neste ano de 1958, há um surto de assassinatos de crianças - uma delas, o irmão de Bill Gago, o George (o garotinho de cinco anos, de capa de chuva amarela, que em um dia de chuva, sai para soltar seu barquinho de papel - construído para ele pelo irmão mais velho - nas enchentes da cidade e o vemos ser atacado por algo que sai de um bueiro já nas primeiras páginas). A cidade mergulha então em um clima de medo e insegurança para as crianças que nela moram. Ao mesmo tempo, uma figura sinistra é vista em diferentes locais e por diferentes crianças: uma figura fugidia de um palhaço, que se diz Pennywise, o palhaço dançarino, cuja figura atraente ao universo infantil (oferecendo balões e malabares digno de circo), instantaneamente se metamorfoseia em características ameaçadoras, que revelam sua verdadeira intenção. Nosso grupinho de amigos, O Clube dos Otários (ou Perdedores, como na tradução anterior) se junta inicialmente para formar uma frente unida contra o valentão Henry Bowers, o bullier da escola, e de forma meio canhestra acabam conseguindo em situações diversas, botar o valentão e seus amigos para correr. 
A amizade entre eles, cresce, se fortalece e desempenha papel decisivo naquele longínquo ano de 1958, na derrota da Coisa que aterroriza Derry e que se esconde nos subterrâneos da cidade, faminta de crianças, medos e gritos. No final daquele ano, eles se separam, cada um vai para um canto diferente do país com a família, mas antes de partir, eles de forma ritualística, firmam uma promessa com sangue: se um dia A Coisa voltasse, eles voltariam para combatê-la novamente.

Passam-se os anos, lembranças são esquecidas. Em uma certa noite de 1985, seis telefones tocam. Uma única frase é dita a seis pessoas que - de início - não fazem ideia de seu significado: "A Coisa voltou. Você vem?"
Uma simples frase com tanto poder de trazer à tona tantas lembranças (embora algumas só voltem completamente beeeem no finalzinho do livro), sentimentos e que causam tantas mudanças nas vidas - aparentemente bem estabilizadas - de seis adultos sem nenhum contato entre si.

É isso, em 1985, A Coisa volta. Mike Hanlon (o garoto negro do Clube dos Otários) foi o único que continuou morando em Derry, como um farol, um sentinela do destino pelo que poderia estar por vir. Quando, em 85 uma nova onda de assassinatos volta a ocorrer em Derry, ele sabe que tem de convocar os antigos amigos, para cobrar aquela promessa solene feita com todo o fervor infantil de que eram capazes.
Acompanhamos o reencontro destes amigos, sua reconexão, as lembranças voltando pouco a pouco para revelar os pontos cegos daquele primeiro confronto contra a coisa, 27 anos antes. Sim, um dos pontos (altos, em minha opinião) da narrativa é esse: sabemos desde o início que eles lutaram contra A Coisa e a derrotaram, porém os detalhes dos "como", "quando" e "com o que", só são revelados nas últimas páginas do livro, lado a lado com o embate atual, em capítulos que se alternam na linha do tempo, criando um suspense dinâmico e muito bem amarrado.

Ao longo da reunião e reconexão dos amigos e com suas promessas, Mike Hanlon, bibliotecário de Derry, revela algumas descobertas interessantes sobre Derry - nossa personagem central, cidade que vive, respira e odeia, com suas redes subterrâneas tão viva quanto artérias principais de um corpo humano. Que em ciclos de aproximadamente 30 anos, voltando no tempo e na História, a cidade é acometida por ciclos de violência exacerbada, e clima natural hostil, como se algo nela - algum deus antigo, talvez? - exigisse sacrifícios cada vez mais bárbaros para ser apaziguado e voltar a hibernar. Esta é a grande sacada do livro. Particularmente, eu como uma boa garota dos anos 80, nunca gostei de palhaços. Não diria que é medo (coff coff é medo sim coff coff), mas nunca gostei de palhaços e me sinto extremamente desconfortável diante deles. Quando se pensa em It, no filme, pensa-se no palhaço assassino. Bom, no livro, vemos que não é só isso. O Mal que reside em Derry e muito maior do que Pennywise, o palhaço é somente uma de suas faces - talvez a face mais atraente às crianças, das quais se alimenta, mas é um Mal maior, mais irrestrito, mil vezes pior do que só um palhaço, é um mal que cria raízes fortes no coração humano, e isso é o mais assustador de tudo! E foi assim que me curei de meu medo de palhaços, jovens senhoras e jovens senhores! Ok, leitores antigos, certamente a esta altura estarão revirando os olhos e dizendo "ora essa, essa daí parece que descobriu a pólvora!" mas para mim, esta revelação foi crucial para o envolvimento com o livro. Se fosse um livro só sobre um palhaço assassino... certamente não teria me impactado tanto.

Eu sou uma leitora adulta muito chata. Não tenho muita paciência com livros infanto-juvenis, com aquelas questõezinhas ginasiais, duvidazinhas de "beija ou não beija", ter de voltar para casa antes das dez, de ser popular ou não, bem me queres e mal me queres. Não gosto, não tenho paciência. Falha minha, talvez, fazer o que?... Gosto de livros consistentes, com dramas reais, medos reais, medos universais, assuntos adultos. Apesar das personagens de It serem crianças (em boa parte do livro) não são criaaaaanças... são tão maduras, com suas vivências e experiências e profundidade, que me fez amá-las e sentir muita falta delas ao final do livro.

Apesar de vencidas as 1.102 páginas, assim que terminei. Tive de combater o desejo insano de reiniciar a leitura imediatamente e até agora estou meio que sem saber o que ler em seguida. Sensação de que tudo o que vier daqui por diante, possa ser um anticlímax.

Ah propósito, sei das conexões de It com o universo da TN, mas como não li a saga, tudo me passou despercebido sem dó, nem piedade, mas foi uma delícia ver um jovem Dick Hallorann (o cozinheiro do Hotel Overlook em O Iluminado) ser mencionado pelo pai de Mike Hanlon em certa altura. E gostei do final, levemente lovecraftiano, com o que pode haver além da escuridão.

Recomendadíssimo. 
Amei.
5 estrelas. 
Bip bip Richie... O livro é tudo o que dizem, e mais um pouco...  <3

sábado, 13 de junho de 2015

Deborah Curtis - [Tocando a Distância] Ian Curtis & Joy Division

Por falar em livros, esta semana, devido a um defeito na linha telefônica, que detectei na noite de terça e que me deixou sem telefone e sem conexão até a manhã de sábado (thank you Vivo!), consegui ler dois livros, o primeiro foi Terra em Chamas, o quinto das Crônicas Saxônicas do Bernard Cornwell que estava na fila desde que ganhei de amigo secreto em 2011... e o segundo, sobre o qual gostaria de falar um pouco é a biografia do Ian Curtis e Joy Division escrito pela esposa do Ian, Deborah Curtis.

Ganhei este livro em um sorteio da KissFM no final do ano passado, e assim que o trouxe para casa, meu marido (grande fã do Joy) pegou para ler e sumiu com ele. Como precisava de um livro impresso para carregar na mochila e ler enquanto espero o ônibus (emprego novo, busão novo, e não tenho coragem de sacar meu tablet assim, na rua) revirei a estante e consegui encontrá-lo. Li rapidinho. 


Tocando A Distância - A curta, genial e trágica trajetória de Ian Curtis, vocalista do Joy Division, faz parte daquelas grandes histórias do rock’n’roll. Viveu rápido, morreu jovem e virou mito. Tocando a distância é o relato íntimo, aprofundado e fiel das duas personas do cantor, o mito e o homem, escrito pela única pessoa qualificada para essa missão: a sua viúva Deborah Curtis. Reverenciado por seus colegas (“a voz sagrada de Ian Curtis”, disse certa vez Bono Vox, do U2) e idolatrado por seus fãs, Ian Curtis deixou um legado artístico formidável. Hipnotizante em cima do palco, mas introvertido e propenso a variações de humor na vida particular, Ian cometeu suicídio em 18 de maio de 1980. Essa biografia mostra como Ian Curtis foi seduzido pela glória de uma morte prematura, mesmo com esposa, filha e o iminente sucesso internacional. Considerado o livro essencial sobre esse ícone da era pós-punk, o volume traz prefácios escritos por grandes nomes do jornalismo musical: o inglês Jon Savage e o brasileiro Kid Vinil. O premiado filme Control, de Anton Corbijn, foi baseado nesse livro. A obra ainda inclui todas as letras (algumas inéditas), escritos inacabados, fotos do arquivo pessoal de Deborah Curtis, discografia e a lista de shows do Joy Division.


Se é verdade que toda a história tem três lados: o dela, o dele e a verdade; temos em "Tocando a Distância", somente o lado dela na história. Ela, sendo a esposa de Ian Curtis, Deborah Curtis, namorada de adolescência, que virou esposa e conviveu com ele dos dezesseis anos até sua morte, aos vinte e quatro.

Eu achei o livro pungente, cheio de sentimentos, e compreendi muito do posicionamento dela em relação a tudo o que aconteceu, porém, nem de longe soa como a verdade nua e crua - ou melhor, soa tanto como a verdade nua e crua - que nos faz ter a impressão de que não é a verdade natural, e sim uma racionalização em cima de uma verdade muito mastigada, há muito digerida e reformatada para se encaixar em uma suposta paz de espírito. 
Talvez seja inevitável consequência do que causa o suicídio de alguém próximo, talvez seja resquício da raiva por ter sido traída, não dá para saber ao certo. 

Deborah fala da vida de Ian desde a infância, passando pela adolescência e sua obsessão por fazer parte da cena musical pós-punk que tanto gostava. Suas tentativas de formar uma banda, o relacionamento com amigos, as experimentações com drogas, os ataques de frustração, revolta e ciúmes, a tentativa de suicídio na adolescência...  Fala de um jovem desajeitado, solitário, inteligente, mas de certa forma, manipulador e um pouco alheio às pessoas ao seu redor, com profundo poder de empatia por desconhecidos, mas frio e distante de quem lhe era mais próximo. Teimoso e focado, cheio de planos para o futuro da música, mas muito pouco focado no lado prático da vida, como foi até o fim. 
Nos debatemos pelas páginas entre a compreensão e respeito por um exacerbado instinto artístico (ah, eles são tão extravagantes, e podem tudo!) e o forte sentimento de que aquele homem era, antes de tudo, um egoísta! Pobre esposa.... Mas aí entra aquela coisa: falta o lado dele na questão (e claro, faltaria também, sempre, a verdade).

Foi interessante acompanhar o surgimento do Joy Division (anterior Warsaw), desde o embriãozinho na mente do Curtis, compreender a inspiração para algumas letras (insisto que não sou profunda conhecedora da cena musical dos anos 80, mas sou uma curiosa entusiasta) e apesar do azedume de algumas passagens devido à condescendência da esposa, foi possível reviver alguns dos shows e cenas com base na narrativa da Deborah. 

Ian Curtis, fosse pela sua doença (ele foi diagnosticado com epilepsia e depois de casado tinha ataques epilépticos constantes - inclusive no palco) ou pela depressão (e atração pela morbidez) que aparentemente o acompanhou vida afora, foi uma pessoa atormentada (góteco!) e nada fácil de se conviver. Ambos eram muito jovens, e depois do nascimento da filhinha, Natalie, as coisas podiam - deviam, talvez - ter mudado, com o tempo (quando ele se suicidou, ela tinha pouco mais de um ano). Talvez se ele não tivesse se suicidado em 18/05/1980, enforcando-se no chão da cozinha para a esposa encontrá-lo, talvez tivesse chegado a uma maturidade, uma vida minimamente suportável, confortável... mas desistiu antes, e todos ao seu redor se surpreenderam. O livro é recheado de "ninguém diria!" "se ao menos tivéssemos visto os sinais". Cheio de culpa. E de resignação. 

Tenho nojo de homem que trai. Aliás, tenho nojo de gente que trai. Já fui mais cabeça aberta em relação a isso, já compreendi, já filosofei, mas acho que quando a gente assume um compromisso para a vida toda (mais do que para com a outra pessoa, mas para conosco mesmos), a gente tende a se recobrir com uma carapaça que é até uma forma de auto-proteção. Sei que estou errada, que trair é normal, que não é um fim de mundo. Mas lá dentro, o meu astronauta interior (lá no fundinho de minha mente) grita: Mas caramba! O cara todo estropiado, ainda fica dando brecha pra groupie. Filho da puta, francamente, viu!!!"
Mas ei, essa sou eu. 

Se sua genialidade musical se devia a este seu tormento interno, ou este tormento interno se agravou devido à sua genialidade musical, acho que ninguém jamais saberá.

Boa leitura. Triste. Cheia de fotos e letras de músicas, com tradução, escritos inacabados e letras inéditas. Acho que para Deborah Curtis, contar sua história foi uma espécie de ponto final em um assunto doloroso. Que bom que ela compartilhou-o conosco. 


sexta-feira, 5 de junho de 2015

[LANÇAMENTO] Stephen King - Finders Keepers (Bill Hodges Trilogy #2)

Por falar em livros..

Saiu essa semana, em 02 de Junho, o segundo livro da trilogia Bill Hodges, iniciada com "Mr. Mercedes" em 2014. Tida como primeira inserção do King no mundo de thrillers policiais (e de trilogias), o livro tem 448 páginas, e sem previsão de lançamento no Brasil. A editora brasileira do King, aqui no Brasil, a Suma de Letras, adiou o lançamento do primeiro livro para 2016, oremos para que o segundo saia em 2017.



À esquerda temos a capa britânica (a que eu achei mais linda!) e à direita, a capa americana


"Finders Keepers" (em tradução livre, "Achado não é Roubado") - um romance magistral e intensamente cheio de suspense sobre um leitor cuja obsessão com um escritor recluso vai longe demais - é um livro sobre o poder das histórias, estrelado pelo mesmo trio de improváveis heróis que King apresentou em Mr. Mercedes.

"Acorde, gênio". Assim se inicia a instantânea fascinante história sobre um vingativo leitor. O gênio é John Rothstein, o icônico autor criador de um famoso personagem, Jimmy Gold, mas que não publica um livro há décadas. Morris Bellamy está furioso, não só porque Rothstein parou de publicar livros, mas porque o inconformado e rebelde Jimmy Gold se vendeu a uma carreira em publicidade, no último livro publicado. Morris mata Rothstein e esvazia o cofre onde ele guardava dinheiro, sim, mas o verdadeiro tesouro são as cadernetas contendo ao menos mais um romance da série Gold.


Morris esconde o dinheiro e as cadernetas, e então é peso por outro crime. Décadas depois, um garoto chamado Pete Saubers encontra o tesouro, e agora é Pete e sua família que Bill Hodges, Holly Gibney e Jerome Robinson deve salvar do cada vez mais desequilibrado e vingativo Morris, quando ele é libertado da prisão, após trinta e cinco anos.


Desde Misery (Louca Obsessão), King não brincava com a noção de um leitor cuja obsessão com um autor se torna perigosa. Finders Keepers é um suspense espetacular, de acelerar o coração, mas é também King escrevendo sobre como a literatura pode forjar uma vida - para o bem, para o mal, para sempre..



Sem me aguentar de ansiedade, é claro que dei meus pulos para conseguir o ebook já no dia lançamento (consegui até um dia antes \o/) e terminei a leitura ontem. 
De certa forma, como sabendo ser o segundo livro de uma trilogia, eu fiquei meio que esperando (ah, as expectativas, essas malvadas!) a presença triunfal de Bill Hodges, Holly Gibney e Jerome Robinson logo no início, me puxando pela mão através de mais um mistério envolvendo loucura, explosões e ritmo vertiginoso o qual tirariam de letra, logo de cara. Só que não.

Finders Keepers oscila capitulos entre presente e passado, tem um ritmo próprio e demora bastante até o link entre as duas histórias realmente se estabelecer. Lógico que logo no início revisitamos a cena do ataque do Mercedes cinzento às pessoas na fila da Feira de Empregos, que é a cena de abertura do Mr. Mercedes, mas tirando esta interligação, a história - pode-se dizer - é avulsa.
Bill Hodges só vem a aparecer na segunda parte do livro (Old Pals), e até lá já rolaram 176 páginas e já estamos imersos em outro ritmo e outras vivências. A narrativa se alterna entre diversos pontos de vista (yey!) e isto eu acho ótimo, porque damos uma olhadela dentro da mentalidade do vilão. A respeito do vilão... o que dizer? ele é louco de pedra! Artigos insistem em traçar um comparativo entre ele e Annie Wilkes (a fã número 1 de Misery) e só o que posso dizer é que, apesar da loucura presente nos dois, enquanto a obsessão de Annie pode até ser considerada pueril e honesta (tipo aquela coisa de solteirona que se deixa envolver em histórias românticas, óbvio que levado às últimas consequências) chegando até a dar dó em certas partes, Morris Bellamy é um adolescente pedante, mesmo ao sair da prisão, aos sessenta anos. Irritante, meio difícil se identificar. Até compreendemos sua loucura, sua revolta e obsessão, mas não dá para se identificar muito. Livro afora, vemos que apesar de inteligente, seu cérebro meio que não evoluiu daquela rebeldia adolescente (qualquer semelhança com O apanhador no Campo de Centeio é mera coincidência?) e do inconformismo pelo seu autor favorito ter pervertido seu herói, transformando-o em um homem conformado e assentado, que trabalha das oito as cinco e tem esposa e uma casinha com cercado branco no quintal. 
A diferença crucial, ao meu ver é que: enquanto Annie idolatra autor E obra, Morris Bellamy pouco se lixa para o autor. Sua paixão é a obra. E isso por si só, já é uma mudança interessante! 
Quando conhecemos Pete Saubers, (o garoto que encontra o tesouro) meio que entramos em outro ritmo da história, vivendo uma típica história de aventura juvenil (cheia de altas aspirações e boas intenções, como os Goonies) e é com um sorriso nos lábios e uma dorzinha no coração que vemos como ele se empenha em "resolver os problemas" pelos quais seus pais passam -- aliás, um adendo: achei as figuras paternas muito alheias à situação no geral... não me convenceu muito também. O garoto passa por longos períodos de sofrimento ético e de auto-suplício por ter talvez tomado uma decisão errada e o medo de ser julgado por isto. Em parte, estas cenas são bem arrastadas - rs, mas sentimos como o garoto foi afetado por tudo o que lhe aconteceu.
No final há o grande embate do bem (Pete) contra o mal (Morris) em uma cena que me remeteu de leve ao embate de Paul Sheldon contra Annie Wilkes.
Uma coisa que eu achei bem legal (ou que pode ser um verdadeiro fracasso, vai depender de como King resolva levar isto adiante) foi o aspecto sobrenatural que ele inseriu, ausente em Mr. Mercedes (não dá para falar muito, senão vai ser um grande spoiler). Mas fica uma bela ponta para o próximo livro, que, segundo o autor em uma entrevista recente, se chamará "The Suicide Prince" [mudou, agora se chamará "End of Watch"].
Que venha!

See you later!

sábado, 2 de maio de 2015

[Resenha] Stephen King - Sobre a Escrita, a arte em memórias

Por falar em livros...

A Editora Suma lançou mês passado aqui no Brasil o cultuado On Writting do autor Stephen King, lançado nos EUA em 2000 (e relançado depois, em 2010). É um livro de não ficção onde o autor fala - como o nome diz - sobre o processo de escrita (linguagem, o ato de escrever, o que impulsiona um autor, e de quebra, nos conta um montão sobre sua própria vida).

Confesso que não estava muito empolgada, porque não sou muito fã de biografias, ou de livros de não-ficção o próprio Dança Macabra dele, que li há muitos anos, me decepcionou... [*coff*talvez porque eu o tenha comprado por engano, achando que ia ler o Dança da Morte (The Stand)*coff*] Mas esta impressão não durou três páginas, logo o livro me conquistou.

O livro é relativamente curto e o tom é intimista, o autor parece um avozinho querido contando histórias de seu passado, o que é cativante. Dividido em três partes, a primeira intitulada "Currículo", o Sr. King nos mostra algumas de suas lembranças mais antigas (para mim, a quem a vida parece ter começado aos 11 anos, parece incrível alguém lembrar de fatos acontecidos aos 4, 6 anos). Mas ele lembra e nos conta algumas passagens emocionantes e engraçadas (eu ri muito com este livro), usa estes fatos para mostrar os tijolinhos que construíram o autor dentro dele. 

Da infância, passa pela adolescência, os primeiros contos publicados (a vitória de vender um conto por vinte dólares, por exemplo), fala rapidamente, mas com grande e emotiva reverência sobre quando conheceu Tabitha Spruce, sua esposa até hoje [eu, particularmente, achei lindas as referências maduras dele ao relacionamento com ela e toda a família], a emoção da primeira proposta de verdade, quando conseguiu vender por um valor expressivo os direitos de publicação do primeiro livro: "Carrie, a estranha" [que, na verdade, foi o primeiro a ser publicado, ele já tinha escrito três romances antes dele, Rage, A longa marcha e O concorrente, que só foram publicados bem depois] - a dificuldade de ver-se em uma situação em que não tinha dinheiro sequer para comprar remédio para a filha doente (quem nunca?).

A segunda parte é sobre a escrita, propriamente dita. Dá dicas de linguagem, construções, diálogos... menciona alguns trechos para exemplificar o que está querendo dizer [no fim, fiquei com uma leve dúvida se todas as dicas dele - que referem-se à língua inglesa, são válidas inquestionavelmente também para a língua portuguesa]. E há um franco ataque ao uso excessivo de advérbios na literatura moderna -- Repitam comigo: advérbios não são seus amigos, advérbios são do mal.--Amei a parte sobre enxugar o que for irrelevante. Amei mesmo. Certamente se isto fosse regra geral, não teríamos tantas "sagas" atualmente *sorrisinho maldoso*.

Na terceira parte, que encerra o livro ele conta sobre o acidente que sofreu em 1999, que quase o matou. Também contém trechos emocionantes.

Ao longo do livro, convém mencionar, que ele "disseca" algumas de suas obras, fazendo algumas revelações que pessoas mais sensíveis a SPOILERS provavelmente não irão gostar. Lembrando que, já que o livro é de 1999/2000, são as obras mais antigas: Carrie, A longa Marcha, Buick 8, Salem, A dança da Morte, Misery... atenção na hora de ler. Eu não li alguns destes, mas com os filmes e tudo o mais, não achei os spoilers tão ofensivos assim (minha tolerância a eles é elevada), de qualquer forma, requer cuidado aos que não gostam.
Eu fiquei é com vontade de ler os que não li e reler os que já li (para tentar ver pelo prisma dele).

Para mim, este livro foi um grande desmistificador. 
E por outro lado, um grande mistificador também Emoticon confused Advérbios, advérbios, como livrar-nos deles??????

Ao mesmo tempo que me deu vontade de escrever mais, me deu vontade de me encolher à minha insignificância e deixar a coisa para os profissionais de verdade, como ele.

P.S.: Fiz esta resenha para a Page Group Stephen King, do Facebook.  
Já conhecem?

Galera super do bem e diversos conteúdos sobre o universo do autor atualizados diariamente... Neste mês de aniversário do grupo, estão rolando várias promoções e concursos.

terça-feira, 14 de abril de 2015

[Resenha] J.R. Ward - The Shadows

Por falar em livros...

Terminei a leitura do The Shadows, livro 13 da série Irmandade da Adaga Negra, da autora J. R. Ward, lançado no início do mês... se vocês leram meu último post, devem saber que minhas expectativas não estavam muito altas, mas ainda assim... o livro me surpreendeu por ser tão ruim!!!
Sabem o livro do Phury (Amante Consagrado) que até então é tido por grande parte dos leitores como o mais fraco da série até agora? Então, este conseguiu ser pior.
Terminei as quinhentas e noventa e duas páginas em inglês ontem, com uma imensa sensação de decepção... Embora eu saiba que a autora não me deve nada, e que obviamente algumas leitoras vão gostar, e blablabla... Como dizia Raul: "mas é que se agora pra fazer sucesso, pra vender discos de protesto,todo mundo tem que reclamar....."


Falando por cima sobre a história... este livro fala dos dois irmãos Trez e iAm, da raça dos Sombras (uma vertente da raça vampírica, assim como os sympaths). Desde o livro do Rehv (Amante Vingado) eles vinham aparecendo aqui e acolá, ganhando destaque como personagens periféricos série afora. Eles apareceram em "Amante Vingado" como seguranças e guarda-costas fodões do Rehvenge em seus clubes noturnos e negócios escusos, e que os ajudaram com toda aquela questão da princesa sympath
Trez o tresloucado sexual, fodedor de tudo o que respire por perto dele, iAm o quieto "virjão", na dele. Ao longo dos últimos livros vimos delineadas sugestões de parte da história deles, que Trez havia sido vendido pelos pais, na infância para a Rainha dos Sombras para que fosse emparelhado à filha dela, a Princesa do s'Hisbe, como estava escrito nas estrelas segundo o mapa astrológico do nascimento deles. Trez consegue fugir deste destino, e se esconde na cidade de Caldwell, aliando-se a Rehv e a Irmandade, mas a lâmina deste destino estava sempre pairando sobre sua cabeça - e a do irmão, pronta para cair a qualquer momento. Em "O Rei", os s'Hisbe descobrem onde eles estão escondidos, e aparecem cobrando que ele cumpra seu destino e volte ao Território. Nos dois últimos livros, já vínhamos vendo o envolvimento de Trez pela Escolhida Selena, de quem tivemos uma sugestão de sofrer de uma doença gravíssima em "O Rei".

A seguir, exponho minhas impressões, tentando mantê-la livre de SPOILERS, porém, quem for sensível ao assunto, é melhor parar de ler aqui.  E não, não sou uma HATER, porém, procuro ser minimamente crítica quanto ao que eu leio, e embora eu adore a série, achei "The Shadows" um livro muito aquém do que deveria ter sido. 

Então, cortando em miúdos:

1) Trez e Selena já começam Os Sombras em clima de SóLove; 
2) As 592 páginas do livro cobrem um período de tempo impossível: dois ou três dias (imaginem só a encheção de linguiça de personagens periféricos!);
3) Apesar de toda a intriga delineada, ou seja, que, para ficar com seu HEA, Trez teria de superar toda a questão de ter de cumprir sua sina junto ao s'Hisbe, o único que pareceu se preocupar com esta questão o livro inteiro, foi o irmão, iAm. Trez, como lhe sempre foi típico, ligou o FODA-SE logo no início e ficou no Love com a Selena, pouco se fodendo com o que aconteceria depois;
4) Enquanto a cada capítulo alternado, desde o início, víamos iAm se condoendo, se matando para pensar em um jeito de salvar o puto, vemos que Trez só foi se lembrar que tinha um irmão, e se preocupar com o que poderia lhe ter acontecido lá pela página 300 (!) do livro - nisto, o pobre do iAm já tinha sido preso no território s'Hisbe, já tinha passado um perrengue danado para tentar buscar uma solução para a tal da doença da Escolhida, tudo pelo irmão;
5) Faltou aquele clima de mitologia (ainda que forjada) que teve em Amante Desperto, quando haviam capítulos atuais se alterando com capítulos flashback da época da prisão do Z. Em umas duas ou três páginas, a Ward nos mostra muito por cima como foi o curto espaço de tempo que Trez passou na prisão s'Hisbe quando garoto (e não foi nada demais, no final das contas);
6) Nada de Sola Morte (graças aos céus pelos pequenos favores), mas tem um pouco de Assail, e ela, só em suas lembranças;
7) Houve a introdução de uma personagem nova, a Paradise, filha do Primeiro Conselheiro do Rei, que vai ser personagem do livro da spin-off, Black Dagger Legagy, a ser lançada em Dezembro/15. No início achei-a chatinha, tipo adolescente que só pensa em celulares e mensagens de texto, e cheia de nove horas, mas depois acabei gostando dela, porque abordou algumas questões bacanas sobre o conservadorismo que impera também na raça, contra a aceitação das fêmeas na guerra contra os lessers
8) A tal da Princesa s'Hisbe, que já vínhamos adorando odiar, se mostra simplesmente uma FOFA livro afora (oi?)
9) A Ward foi óbvia demais em algumas das soluções de seus conflitos. Revisitou mesmo aquele velho clichê do "dois-irmãos-gêmeos-e-uma-garota", e a escaramuça com o s'Hisbe pela qual iAm se descabelou livro afora - e para o qual, Trez não parecia dar a mínima - acabou se resolvendo MILAGROSAMENTE SEM ENVOLVIMENTO DELES (oi²? aí fica muito fácil, não?) 
10) No campo Xcor X Layla.......... tem uma cena deles verdadeiramente boa, de deixar o coração formigando e borboletas no estômago. Para logo em seguida, Xcor peidar o fubá e cagar a coisa toda. Eu sempre o defendi, mas finalizei The Shadows positivamente odiando-o. Assim não dá para te defender, abigo!
11) Rhage teve uns faniquitos inexplicáveis O LIVRO INTEIRO!!!!! Faniquitos que não explicaram a que vieram, porém, dão pistas do que acontecerá no livro seguinte, que se chamará "The Beast" (obviamente relacionado ao dragão que Rhage carrega dentro de si), e que enfocará ele com Mary. Já digo aqui minha aposta para The Beast: já que Mary é estéril, o bebê que ela e Rhage terão certamente será adotado. E minha aposta é que seja daquela fêmea que está moribunda no Safe Place. (Óbvio, Ward... tão óbvio... tsc tsc tsc).
12) A Virgem Escriba dá o ar de sua graça bem no início, mas nada relevante. Parece que a autora só enfiou ela na história para constar. 
13) o s'Ex tem coração... e ele sangra! (quem diria......)

A parte boa... as cenas do iAm são hot, críveis e ele é verdadeiro macho de valor! Se enxugassem todas as chorumelas e fizessem só uma novella dele, seria perfeita. Agora deixar o pobre do Xcor em suspenso, esperando a prostituta que exigiu do Zypher, para esquecer a Layla (escroto!) por mais de setenta páginas, é broxante demais, pois quando retoma daquele ponto, tanta coisa aconteceu antes e depois que você acaba nem estando mais naquele clima.
Apesar do consenso que eu acho que vai ser geral, eu não desgostei muito profundamente do final de Trez e Selena. Pelo menos nisto, a Ward foi minimamente coerente. Embora eu sinta que não foi um ponto final. 

Livro ruim, gente. 
Que pena


quinta-feira, 2 de abril de 2015

The Hellbound Heart (Hellraiser) / O Coração Condenado - Clive Barker

Por falar em livros...


Vou falar hoje de uma noveleta (para quem não sabe, uma noveleta - ou novella - é basicamente aquela história que é grande demais para ser um conto, e pequena demais para ser um livro) de Clive Barker, autor dos excelentes "Livros de Sangue" e "O Desfiladeiro do Medo" (este último, já resenhado aqui

Foi publicado inicialmente em Novembro de 1986, com o título de The Hellbound Heart, pela editora Dark Harvest, no terceiro volume da sua série de antologias Night Visions, e conhecido por ter se tornado a base para o filme de 1987, Hellraiser (no Brasil, o filme ganhou o subtítulo "Renascido do Inferno") e suas continuações. A novella voltou a ser publicada de forma individual pela HarperCollins em 1988, após o sucesso do filme, junto com um audiobook gravado por Clive Barker e publicado pela Simon & Schuster Audioworks. 
Tem o estilo gore e visceral que Barker já introduzira nos seis volumes de sua série de contos "Os Livros de Sangue". 

A história enfoca um quebra-cabeça místico em forma de caixa e o horror que se abate sobre uma família que deu azar de cruzar seu caminho.


Eu andava a procura deste conto desde que havia lido alguns volumes dos Livros de Sangue. Desde criança eu gostava do filme (a figura do Pinhead, sempre foi das minhas favoritas dos filmes "proibidos", mas que eu assistia escondido mesmo assim) e quando descobri o autor, tentei fazer buscas pela internet, mas nunca havia encontrado este material. Descobri mais tarde, que nunca foi lançado aqui no Brasil, daí a ausência de informações. 
Consegui baixar o audiobook e ele ficou esquecido no meu note por alguns meses, mês passado eu acabei jogando no iPod para ouvir qualquer hora destas (me alegra agora saber que o narrador é o próprio Clive, conforme a Wikipedia, informação que havia me passado despercebida). Bom, em matéria da língua inglesa eu sou uma curiosa entusiasta, mas não expert. Me viro bem na escrita e leitura, mas minha compreensão verbal deixa muito a desejar. Consegui apreender uns 70% da narração em quatro partes e já me dei por muito satisfeita! E foi muito bom ter contato com esta mídia e ver que funciona bem para mim (eu enjoo se tentar ler no ônibus e sempre ando com meu iPod, então, já cogito enchê-lo de audiobooks para poder aproveitar as enfadonhas viagens de ônibus e caminhadas a pé de casa para o trabalho, do trabalho para casa - rs)

Aproveitando o entusiasmo que ter acesso à esta tão procurada história  me causou, resolvi praticar um pouco o meu inglês e fiz uma tradução amadora, que disponibilizo para quem quiser ler e conhecer. Baixem aqui "O Coração Condenado" em pdf.

Considerações gerais:
1) Não sou tradutora profissional, o material pode (e certamente deve) conter erros e/ou inconsistências, sejam condescendentes em seu julgamento;
2) Este post não é um incentivo pirataria - levem em conta que este material não foi lançado no Brasil;
3) Como fã, também torço para que alguma editora se anime a lançar o material com uma primorosa tradução profissional, em edição linda para ser ostentada na estante, e estarei na primeira fila para comprar!


Ah, sobre a história... Eu gostei muito da narrativa. É basicamente a mesmíssima história do filme (o primeiro), com algumas poucas diferenças, mas com aquela profundidade que só o livro tem em relação ao filme. 
Diverti-me muito ouvindo, lendo, traduzindo e revisando. Espero que gostem também!

Até mais!


Links corrigidos. 
Para baixar em PDF clique aqui  e para baixar em EPUB, clique aqui
Boa leitura!

terça-feira, 31 de março de 2015

[Dia de Lançamento] J.R. Ward - The Shadows (BDB #13)

Hoje é dia de lançamento do 13º livro da Irmandade da Adaga Negra, da autora americana J. R. Ward. 
O livro se segue ao The King (lançado ano passado) também foge ao padrão de título com "Amante.../Lover..." dos primeiros livros da série, o que parece ser uma guinada (consciente ou não) da autora nos rumos da irmandade. 
Após anúncio da criação de um spin-off a se chamar "Black Dagger Legacy" que tratará de histórias de novos personagens passados na Academia da Irmandade (estilo quando o John Matthews apareceu, no terceiro livro, lembram?) prometendo várias interações dos irmãos principais Z, Phury, Tohr etc etc etc com os novos alunos... eu, como fã temo somente que a porção de personagens paralelos continuem engolfando as personagens centrais e os irmãos sejam cada vez mais esquecidos. 
Eu, particularmente, não me sinto muito encorajada a acompanhar. Tudo me cheira a uma série juvenil meia boca que se realmente emplacar, deixará cada vez menos a Irmandade original sob os holofotes, até que a autora deixe de publicar de vez.

Mas reminiscências à parte, vamos ao lançamento...

The Shadows - Dois irmãos unidos por mais do que laços de sangue, lutam para mudar um destino brutal no novo comovente livro da Irmandade da Adaga Negra, da autora #1 do New York Times, J. R. Ward.
Trez "Latimer" na realidade não existe. E não só por esta identidade ter sido criada somente para que um Sombra pudesse se integrar despercebidamente no mundo. Vendido pelos pais à Rainha dos S'Hisbe quando criança, Trez consegue fugir do Território e passa a viver como capanga e cafetão em Caldwell, NY por anos - o tempo todo fugindo de um destino de servidão sexual. 
Ele jamais teve alguém em quem pudesse confiar totalmente... exceto seu irmão, iAm. 
O único objetivo de iAm sempre foi impedir os comportamentos autodestrutivos do irmão - e ele sabe que falhou. 
Somente quando a Escolhida Selena entra na vida de Trez, o macho começa a mudar as coisas... mas então, é tarde demais. O débito de emparelhar com a filha da Rainha é cobrado e não há para onde correr ou fugir, e nenhuma forma de negociar.
Preso entre seu coração e um destino ao qual jamais escolheu, Trez deve decidir entre colocar-se ou a outros em perigo - ou abandonar para sempre a fêmea que ama. 
Mas então, uma tragédia inimaginável acontece e muda tudo. Afundado em um abismo emocional, Trez deve buscar uma razão para continuar ou arriscar-se a perder a própria alma para sempre. E iAm, em nome do amor fraternal, depara-se com um sacrifício final.



Já estou com o livro em mãos... mas confesso que minhas expectativas estão baixas. Acho que o iAm vai acabar roubando a cena, e aguardo ansiosamente qualquer ceninha de Layla com Xcor. (e estou pronta para xingar qualquer aparição da Sola com o Assail  kkkkk)
Vamos ver o que a Warden preparou para nós!

sábado, 7 de março de 2015

Reze pelas mulheres roubadas / A morte de Sarai / Desaparecidas

Por falar em Livros...

Em Fevereiro/15 li 3 livros sobre os quais gostaria de discorrer um pouquinho, embora de autores, narrativas e enfoques diferentes, tem um mesmo plano de fundo: o sequestro de mulheres para escravidão sexual.

O primeiro que li, foi o excelente "Reze pelas mulheres roubadas", da Jennifer Clement.


Contundente retrato do México atual, Reze pelas mulheres roubadas mostra a dura vida das mulheres na região de Guerrero, a mesma onde mais de 40 estudantes foram mortos em 2014. Narrativa ficcional escrita a partir de mais de 10 anos de pesquisas da autora, o livro acompanha a história da menina Ladydi, que aos 11 anos vê sua melhor amiga ser roubada para o harém de jovens escravas de um chefe do narcotráfico. É para evitar esse destino que as mulheres da região, e de outros recantos esquecidos pelos governos, deixam de frequentar a escola, cortam os cabelos ou até mesmo se mutilam, a fim de ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico. Escrito em tom de observação antropológica, sem qualquer julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, Reze pelas mulheres roubadas foi aclamado pela crítica no México e nos Estados Unidos.


Devo confessar: Tenho pavor do México. (coff meu marido diria: "fica vendo video de decapitação na internet, dá nisso" coff) Los Zetas, coisa e tal. Pavor mesmo, acho que não iria para o México nem que me pagassem. Comecei a ler este livro, achando que ia ser documentário, em tom de reportagem (não presta atenção nas sinopses... não presto mesmo! Já me deparei com tantas sinopses com spoilers que atualmente só passo os olhos para apreender o clima e não fico lendo muito profundamente para não me frustrar com revelações indesejadas).  
Mas então, foi uma grata surpresa me deparar com uma ficção dinâmica, com um humor ácido permeado por um pungente apelo sentimental (ainda que nada gratuito). 
Retrata a história de Ladydi e da comunidade de mulheres de Guerrero, que são vitimas, mas não indefesas ou resignadas. Elas lutam! Elas refletem! Elas tentam. Mesmo a mais analfabeta, solitária e despretensiosa mulher da comunidade tem uma sabedoria tão cínica que é apaixonante. 

Guerrero e uma comunidade só de mulheres. Por ficar próxima a fronteira com os EUA, todos os homens de lá, mais cedo ou mais tarde, acabam partindo para ir tentar a vida do lado de lá da Fronteira. Alguns morrem, alguns conseguem. Os que conseguem, jamais voltam. Os que voltam uma ou duas vezes, trazem dos EUA algo mais do que alguns miseráveis dólares: AIDS, por exemplo. Miss Marple diria: a natureza humana sendo como é... e ela estaria mais do que certa. Algumas coisas só "servem" dentro de uma perspectiva limitada. Abertos os horizontes para perspectivas mais amplas, o ser humano é mais do que eficiente em justificar suas próprias tendências de fazer o que lhe é mais conveniente em todas as situações, mesmo que isto o torne um monstro que abandona a família em um lugar miserável, para nunca mais voltar, nunca mais ligar.
Além da falta de figuras masculinas, (ou talvez até mesmo por isto), Guerrero é constantemente saqueada por gangues de narcotraficantes, que raptam garotas de dez, doze anos para fazerem parte de seus haréns. Por conta disto, todas as garotas do vilarejo, desde bebês, são disfarçadas de garotos. Diz-se que todas as crianças de Guerrero são meninos, mas que desaparecem misteriosamente aos 10/11 anos. Cabelos sempre curtos, dentes esfregados com substâncias para que pareçam podres, tudo para enfeiá-las, descaracterizá-las como mulheres (vítimas) em potencial. Quando a natureza de desenvolve, e os contornos do corpo feminino ficam evidentes demais para serem disfarçados, é só desespero. Elas vivem em estado constante de alerta para a chegada ou passagem de carros para esconderem-se em buracos no solo, tudo para os traficantes não vê-las, não levá-las.

Apesar disto, Ladydi é uma garota que pensa. Acompanhamos livro afora suas aventuras e desventuras e, com o plano de fundo delineado pela autora, vislumbramos fatores psicológicos inerentes a uma vida cheia de rancor, sem perspectiva alguma, cheia de violência. Mas ainda com alguns sonhos simples, desejos normais - pelo menos normais para nós, que vivemos em constante abundância. E em meio a tamanha falta de recursos e em circunstâncias tão estranhas, a força feminina se ergue, como um pilar, um monumento de protesto em meio a um mundo onde somente os homens tem direito de vislumbrar um futuro diferente. 
O livro é curtinho, e vale muito ser lido. 
Deixa aquele gosto amargo na boca ao tentarmos imaginar quantas Ladydis existem por aí, no México, ou no resto do mundo. 
Dentro de todas nós.

***

No embalo do livro anterior, li a sinopse abaixo e resolvi emendar uma leitura na outra. "A Morte de Sarai, de J.A. Redmerski"

A Morte de Sarai - A autora do best-seller de "Entre o agora e o nunca" e "Entre o agora e o sempre" traz uma história de paixão e sobrevivência.

Sarai era uma típica adolescente americana: tinha o sonho de terminar o ensino médio e conseguir uma bolsa em alguma universidade. Mas com apenas 14 anos foi levada pela mãe para viver no México, ao lado de Javier, um poderoso traficante de drogas e mulheres. Ele se apaixonou pela garota e, desde a morte da mãe dela, a mantém em cativeiro. Apesar de não sofrer maus-tratos, Sarai convive com meninas que não têm a mesma sorte. 

Depois de nove anos trancada ali, no meio do deserto, ela praticamente esqueceu como é ter uma vida normal, mas nunca desistiu da ideia de escapar. Victor é um assassino de aluguel que, como Sarai, conviveu com morte e violência desde novo: foi treinado para matar a sangue frio. Quando ele chega à fortaleza para negociar um serviço, a jovem o vê como sua única oportunidade de fugir. Mas Victor é diferente dos outros homens que Sarai conheceu; parece inútil tentar ameaçá-lo ou seduzi-lo. 

Em “A morte de Sarai”, primeiro volume da série Na Companhia de Assassinos, quando as circunstâncias tomam um rumo inesperado, os dois são obrigados a questionar tudo em que pensavam acreditar. Dedicado a ajudar a garota a recuperar sua liberdade, Victor se descobre disposto a arriscar tudo para salvá-la. E Sarai não entende por que sua vontade de ser livre de repente dá lugar ao desejo de se prender àquele homem misterioso para sempre.


Não sei se eu ainda estava sob impacto do livro anterior, neste tema, acho que acabei me iludindo com a sinopse e esperando demais. 
O comecinho é bom, promete uma leitura bacana. A mocinha, Sarai, empreende uma fuga espetacular de seu local de cativeiro (o harém de algum narcotraficante no México) onde era mantida cativa há 9 anos. Para fugir, ela engenhosamente esgueira-se por alguns capangas que montavam guarda e esconde-se, armada, no soalho do carro de um sujeito misterioso que estava no local fechando negócios escusos com o chefão do tráfico. Ela não sabe quem ele é, nem quer saber, só sabe que passam-se meses sem alguém de fora aparecer por ali, e aquela é sua única chance de escapar de lá. Tem a arma, que está disposta a usar para convencer a pessoa a ajudá-la a escapar. Vagamente tem como objetivo cruzar a fronteira com os EUA. Mas não tem certeza se é para lá que quer ir, aliás, a Sarai não tem certeza de nada.

Não sei se, pela temática ser YA, a autora não ousou aprofundar os anos de cativeiro da Sarai. Se tivesse arriscado a descrever algumas torturas, flashbacks de alguns acontecimentos de seu dia a dia como escrava sexual de um narcotraficante, teria dado mais profundidade, dimensionalidade ao emocional meio capenga da personagem. O lema todo do livro pode ser resumido com o velho cli-CHE: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Sarai é terna, é a típica mocinha de coraçãozinho nos olhos, meiga, inteligente, sensível... as circunstâncias da vida, e toda a crueldade humana que ela presenciou (contra si e outras meninas) a forçaram a endurecer. Só que ela não endureceu direito. Parece que a personagem é só máscara, não tem conteúdo. Aí fica difícil comprar a história, partindo de premissas tão capengas.

Convenhamos: Saraí é CHATA! É confusa! Quer uma coisa, faz outra. Quer fugir, no meio do caminho quer voltar para ajudar à amiga que ficou para trás. Quer tentar vida nova, bem longe - nos EUA talvez - estudar, viver bem, dignamente, mas aí no meio do caminho, do nada, decide que quer virar uma matadora de aluguel, assim como o cara (o anti-heroi misterioso tipicamente clichezistico) que a ajuda (ainda que relutantemente) a escapar. Mas aí, decide que não consegue (ah, os princípios!) matar qualquer um, só pode (quer/consegue) matar os badboys - detalhe: seu radar para os verdadeiros badboys livro afora é PÉSSIMO!. 
Ela é daquela personagem chata que, em situação de perigo, alguém lhe diz: "fique aqui e não se mexa", e é claro, que, assim que esta pessoa sai do recinto, ela enfia a carona na janela, tosse, espirra e peida chamando atenção e desencadeando um tiroteio onde morrem n pessoas. Menos ela. 

Pelo menos o livro é curto. 

***

Fevereiro, em um dos clubes de leitura que participo no Facebook, a autora do mês foi a Tess Gerritsen. Eu adoro thrillers policiais, sejam filmes, séries e - descobri - livros. Já havia lido há alguns anos o livro O Cirurgião, que é o primeiro da série Rizzoli & Isles. E, apesar de ter gostado, não tinha me despertado nada de "oooooohhhhhh, que fantástico", a ponto de me fazer querer ler os outros. Quando apareceu este desafio no grupo, resolvi ler o segundo da série, que, confesso, gostei, mas também não achei ooooohhhh... A questão é que, compartilhar instantaneamente a experiência de leitura com outras pessoas é tão legal que acaba te incentivando e estimulando. Acabei o segundo e fui para o terceiro (devido ao entusiasmo de uma outra colega que conseguiu ler 6 (!!) livros da autora no período, e falava maravilha deles. Encurtando um pouco, cheguei ao quinto livro da Série Rizzoli & Isles:


Sinopse: Desaparecidas - Considerada o grande nome do thriller médico, a verdadeira herdeira de Robin Cook, Tess Gerritsen nos traz este novo e assustador sucesso. Aquela mulher parecia ser mais um corpo na mesa fria do necrotério. Mas quando a legista Maura Isles inspeciona o cadáver, algo assustador acontece: a mulher abre os olhos. Ainda viva, ela é levada rapidamente para o hospital. Mas o bizarro logo se transforma em perigo. Com uma precisão chocante, ela mata um segurança e faz reféns... um deles, uma paciente grávida. Quem é essa pessoa violenta e desesperada, e o que ela quer? 


Dos 4 livros da autora que li no período, este foi o que eu mais gostei. (mas isto é meio suspeito, porque, após o segundo, vai ficando um livro melhor que o outro, e eu só consegui chegar ao quinto. Talvez o sexto seja melhor. Este mês, mudou o autor). 

Ainda na temática tráfico de mulheres, este tem como plano de fundo mulheres da União Soviética  que são enviadas ao EUA, com a promessa de bons empregos em casas de família, mas que acabam sendo enviadas para prostituição em regime de escravidão. A vida de um grupo destas mulheres é retratado em capítulos alternados (em forma de flashbacks) de forma crua e honesta (construindo camada a camada a dimensionalidade das personagens). Desde o desembarque em terras americanas, passando pela percepção do que realmente iria acontecer com elas, até o dia a dia, humilhações e torturas a que tinham de se submeter, tudo entremeado com capítulos cujo enfoque é o ponto de vista de Maura Isles, e outros da Jane Rizzoli.
A parte isto, o livro apresenta tramas paralelas que cativam e intrigam. Não dá para discorrer muito sem revelar informações e interligações importantes (como todo bom thriller policial) mas me encantaram especialmente a questão maternidade x vida profissional levantadas pela Rizzoli mais para o final.

Agora tenho de me focar em John Grisham. Mas retomo a Tess assim que puder, viciei em suas personagens e intrigas! Maura Isles rocks a lot  <3