domingo, 23 de agosto de 2015

Paula Hawkins - A Garota no Trem

A Garota no Trem - Um dos maiores fenômenos editoriais dos últimos tempos, o thriller psicológico The Girl on the train, de Paula Hawkins, surpreendeu até mesmo seus editores e a própria autora, nascida e criada no Zimbábue, que vive em Londres desde os 17 anos: em menos de um mês, o livro – que vem sendo comparado pela crítica a uma mistura de Garota exemplar e Janela indiscreta – ultrapassou a impressionante marca de 500 mil exemplares vendidos e alcançou o primeiro lugar nas listas de mais vendidos em todos os países em que foi publicado (Reino Unido, Irlanda, EUA e Canadá) desde seu lançamento em janeiro. A trama, que gira em torno do desaparecimento de uma jovem mulher, com três narradoras femininas duvidosas, conquistou fãs como o mestre do mistério Stephen King, que publicou em sua conta do Twitter que o “excelente suspense” o manteve acordado a noite inteira: “a narradora alcoólatra é mortalmente perfeita”. 
O livro segue uma linha de recentes sucessos literários de uma nova geração de autoras que vem redefinindo as convenções do gênero policial, com personagens femininos complexos que fogem do estereótipo de vítimas ou megeras, e tramas que criam suspense a partir de evoluções psicológicas sutis e dinâmicas ardilosas do casamento e relacionamentos. Com os direitos vendidos para 37 países e uma adaptação para o cinema em andamento pela Dreamworks, o romance será publicado no Brasil pela Editora Record em junho, com o título A garota no trem.

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O livro tem um começo e um final espetaculares... mas confesso que senti um certo arrastar-se na parte do meio, só não acho que chegou a 4 estrelas por causa disto.
A personagem principal, Rachel, é uma heroína controversa. No começo a gente morre de dó dela, dá para sentir intensamente suas emoções, decepções, dores, ressentimentos - enquanto a história é narrada pelo seu ponto de vista. 
Ela vem e vai de Londres até a cidadezinha onde trabalha, em viagens diárias de trens. Sua distração é observar as casas existentes na beira da estrada de ferro. Tentar imaginar o que há atrás de cortinas fechadas, portas entreabertas e viajar nas vidas, dores e amores que possam se desenrolar dentro daquelas paredes. Concentra especial atenção à um certo trecho, descobrimos depois que ela já morara naqueles arredores, e que seu ex-marido (de quem se separara dolorosamente há 2 anos) vive ali com sua atual esposa e filha. Rachel é uma pessoa problemática. Extremamente presa a laços, ilusões e anseios passados, sente-se acorrentada e constantemente dilacerada na roda da tortura eterna que foi o seu processo de separação e divórcio... além disto ela uma alcoólatra, o que faz com que o leitor tenha constantemente ganas de entrar no livro e lhe dar um chacoalhão para ver se ela cai na real e para de fazer merda. Ao lado da casa que era dela (e que atualmente o ex-marido brinca de família feliz com a mulher com quem a traiu, enquanto estavam casados) mora um jovem casal, a quem Rachel, todos os dias consegue ver em horário certo na varanda, interagindo amorosamente um com o outro. Rachel logo inventa uma linda história para eles, em sua mente, dá-lhes nomes e características de personalidade, inventa profissões, afazeres, preocupações, tudo naqueles ínfimos intervalos quando o trem para no sinal em determinado ponto de sua viagem. O interessante, na verdade, é que apesar de Rachel enganar a si mesmo de que seu interesse real é o casal inventado Jess e Jason, seu coração e sentidos estão todos voltados para a casa ao lado, ao casal ao lado. É um interessante mecanismo de transferência, fuga do olhar-ou-não-olhar, ao qual ela está presa em sua mente ferida.

** Confesso que, particularmente, esta fase do livro para mim, foi dolorosa de ler. Me senti totalmente imersa na dor e no sofrimento dela. Em minha outra vida, vivi algo semelhante, e declaro que, com toda certeza, após uma separação devia ser obrigatória uma ruptura TOTAL. Passar em frente à antiga casa, ou vê-la a distância (ainda mais quando a outra metade da laranja podre ainda lá reside), torna totalmente impossível fazer as pazes com a ruptura, impede que a ferida cicatrize. Ela sempre sangra. E isso ninguém merece. Eu chorei com a Rachel em várias dessas passagens. Chorei mesmo. ***
Mas voltando aos amigos íntimos de Rachel, Jess e Jason. Durante meses, Rachel acompanha a vida dessas duas personagens que levam a vida que ela queria ter. Um casal perfeito, apaixonado, bonitos e felizes em uma casa sólida, numa bonita vizinhança. Perfeitos. Sóbrios.
Em certa altura, ela deixa de ver Jess. Um dia, dois dias, o trem passa por lá e não vê nada... Logo os jornais noticiam o desaparecimento de uma mulher, e ela vê que a "sua" Jess, chama-se Megan, e o marido, não é Jason, e sim Scott. Envolvida como se sente por eles (como ela sente que "os conhece") ela acaba envolvendo-se na investigação do desaparecimento daquela conhecida-desconhecida, deparando-se com mistérios e segredos que jamais desconfiaria.

O livro divide a narrativa em três pontos de vista. Ora temos o ponto de vista de Rachel, ora o de Megan, ora o de Anna (a atual esposa do ex-marido de Rachel). Através das páginas vemos que ninguém presta. Sério. É difícil solidarizar-se com alguém ali (acho que tive mais do da amiga Cathy de Rachel do que de qualquer um ali... tudo pão bolorento, como diz o ditado - rsrs) Mas Rachel é nossa heroína, e apesar de vê-la páginas após páginas fazendo merda (estilo não vou mais beber --- cai de bebada --- não vou mais beber --- cai de bêbada) ainda nos pegamos torcendo por ela. Um dos problemas e que dá aflição acompanhar na parte mais arrastada é justamente que algumas chaves para o mistério estão ocultas sob a nuvem de um apagão de embriaguez da Rachel. Então, nós, leitores somos arrastados por várias situações confusas, incertas e cheias de "será que eu vi isso mesmo?". É um recurso legal, claro. Mas eu sinto que a autora exagerou um pouco e me vi várias vezes exasperada, com a impressão de que esse livro não ia acabar nunca - rsrs.
Porém, mais para o final, o livro retoma o ritmo e o desfecho é muito legal.
Confesso que eu já suspeitava desde o princípio. Não dos "como", só fazendo uma ligeira ideia dos "porquês", mas definitivamente sabia o "quem". O que não me impediu de ser carregada daqui para ali com as dúvidas que a autora plantou no decorrer da história...

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