sábado, 22 de setembro de 2012

Charles Bukowski - notas de um velho safado / pulp / numa fria


Em Notas de um velho safado, a América tem uma cara de 50 anos, corpo de 18 e desfila de calcinha rosa claro e salto alto na madrugada corrosiva de Los Angeles. A América é um sapatão furioso com uma garra metálica no lugar da mão esquerda e não quer saber de transar com o Velho Safado. A América é uma deusa milionária com a qual ele se casa e da qual amargamente se separa. A América é uma prostituta, 150 quilos, um metro e meio de altura, que peida, uiva e destroça a cama quando goza. A América é também estudantes e revolucionários proferindo discursos inflamados em parques ensolarados de São Francisco no final da década de 60. A América é Neal Cassady dirigindo alucinadamente pelas ruas de Los Angeles, pouco tempo antes de morrer de overdose sobre os trilhos de uma ferrovia mexicana. A América é Jack Kerouac e Bukowski poetando na Veneza californiana.
Notas de um velho safado forma um conjunto de histórias excepcionais saídas de uma vida violenta e depravada, horrível e santa. Não podemos lê-lo e seguir sendo os mesmos.



Eu não conhecia Bukowski.
Meu primeiro contato foi através da música do Lupercais* e de alguns comentários do marido, que conhece um pouco mais do que eu (citações).
Vi em promoção na Americanas.com e comprei (estava realmente barato) - no começo, a leitura foi meio engasgada - esta maldita mania que tenho de ler prosa, procurando começo/meio/fim em tudo o que leio, penso, quero! + o sacolejar do ônibus nosso de cada dia + black metal rolando nos headphones... - sofri um tiquinho até me desvencilhar deste inútil hábito.
Depois que 'peguei o ritmo' - encarei a leitura como fluida e um tanto nonsense como ela é para ser - foi uma delícia de ler, fiquei triste quando acabou! E as 250 páginas pequenas VOAM. 

Ficou a impressão de uma espécie de blablabla - BANG! - blablabla (sem ficar interrompendo e voltando a leitura pra entender as profundidades filosóficas dos 'blablabla', mas entendendo MUITO BEM o BANG - sentindo nas entranhas os verdadeiros socos no estômago dispersos em meio de coisas aparentemente nonsense - existem algumas preciosidades em termos de citações, frases esparsas e mesmo experiências que nos fazem refletir muito, imaginar no quanto de gente dita 'normal' passa por nós pela rua e de repente embaixo de seus tapetinhos cotidianos escondam este verdadeira manancial de pervesidade, sujeira e loucura que era a mente desta figura.
Fiquei curiosa em ler os contos e poesia propriamente ditos do 'velho safado', estas 'notas' tem um quê de autobiográfico e muito de confusa embriaguez, então não sei se dá para tecer uma noção exata do que a obra dele realmente 'é'. O quanto dali realmente foi real.
E o que é a realidade, no final das contas?
Me atraiu particularmente o finalzinho, aparentemente mais autobiográfico do que o restante (que soam como delírios)... as descrições do pai e mãe espancadores que Hank teve quando criança, e como ele se tornou um homem gélido. Explica um bocado.
Ou não.
Vale muito a leitura!

Nas palavras de Lupercais, em "Crônicas de um morto cafajeste":
* vá em paz velho safado,
que o céu te receba num sarcasmo sorridente
mas antes de chegar ao paraíso,
passe no inferno e peça a Satanás uma garrafa de aguardente.
Adeus.
(o resto da letra, é impróprio para o horário) 




Charles Bukowski nasceu na Alemanha em 1920 e morreu nos Estados Unidos em 1994. Veio para a América com dois anos e tornou-se um dos maiores poetas e ficcionistas dos Estados Unidos. Santo padroeiro dos bêbados escritores, escreveu, entre outros clássicos, Cartas na rua, Mulheres, Crônica de um amor louco, Fabulário geral do delírio cotidiano, Notas de um velho safado, Hollywood (argumento do filme Barfly, direção de Barbet Schroeder, com Mickey Rourke e Faye Dunaway), a novela Pulp e o O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio, livro confessional e seu último trabalho publicado antes de morrer.
Sua obra poética é vasta e jamais foi traduzida no Brasil. A diferença entre Bukowski e outros malditos é que ele não foi um mártir, nem um anjo caído. Às vezes, quando cai, cai atirando, sem autopiedade. Alguns de seus diálogos são memoráveis, e a violência de sua linguagem geralmente oculta uma indisfarçável ternura pelos perdedores e excluídos. Numa fria é Bukowski puro: uma preciosa coletânea de contos, gênero ao qual ele se dedicou mais intensamente.

 

Eis um Bukowski puro-sangue. Legítimo. Concluído alguns meses antes de sua morte, em março de 1994, aos 73 anos.
Não há como sair incólume desta história. A saga de Nick Belane poderia até ser igual a de tantos outros detetives de segunda categoria que perambulam pelas largas ruas de Los Angeles. Mas aqui, mulheres inacreditáveis cruzam pernas compridas e falam aos sussurros, principalmente uma que atende pelo nome de Dona Morte. Como nos velhos livros policiais de papel vagabundo, subliteratura pura, a quem Charles Bukowski dedica solenemente Pulp.
Ele desafia sua história com habilidade de mestre. Um Rabelais percorrendo o mundo noir? A divina sujeira? A maravilhosa sordidez? Um acerto de contas com a arte? Uma homenagem? Uma reflexão sobre o fim da vida? E tomara que a morte estivesse linda, gostosa e sexy – como está nesta história – quando encontrou o velho Buk poucos meses depois de ter posto o ponto final nesta pequena obra-prima.


Primeira novela que leio do velho safado, até então, tinham sido somente contos. Livro curtinho, li inteiro na espera pelo atendimento médico (tá fiquei umas cinco horas naquele raio de hospital!)
Este tem o clima daqueles filmes noir, de detetives para quem sempre acontecem as coisas mais inusitadas, num ritmo vertiginoso. Nosso querido Nick Bolane deve ser o campeão. Todos os ingredientes do Bukowski: bebida,
femmes fatales (outras nem tanto), cavalinhos, peidos, perseguições a bordo de um Fusca que pede penico ao atingir os 120 km/h, hemorróidas, bares, brigas, absurdos como alienígenas e até a Dona Morte.
"Gente chata da porra. A Terra está cheia deles. Propagando mais gente chata. Um espetáculo de horror. A terra botando chatos pelo ladrão."

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