domingo, 2 de dezembro de 2012

Érico Veríssimo - Olhai os Lírios do Campo

Sinopse:

Olhai os lírios do campo é um dos romances mais famosos de Érico Veríssimo. Um verdadeiro best-seller que resultou até em novela na Argentina. A narrativa da primeira parte é feita em flashback. Eugênio vai lembrando de momentos da sua vida enquanto se dirige ao hospital onde está Olívia.
Eugênio era um menino tímido e medroso. Teve uma infância pobre, era ridicularizado na escola e tinha como objetivo máximo a ascensão social, faria de tudo para um dia vencer na vida. Achava que o que tinha era feio e sem graça, das roupas até o seu próprio corpo. Não se entrosava com os demais colegas de classe e por isso devotava todo o seu tempo aos estudos. Sonhava em deixar de ser simplesmente o Genoca para ser o Dr. Eugênio Fontes. Tinha pena do pai, o alfaiate Ângelo, com quem não conseguia se comunicar facilmente. O seu irmão, Ernesto, não esmerava-se na educação e acabou perdido na vida. Com muito esforço, Eugênio consegue cursar Medicina. Na Faculdade conhece Olívia - única mulher da turma. Na festa de formatura os dois se aproximam e fazem sonhos e confissões juntos, sobre o futuro. Tornam-se grandes amigos.
Durante a revolução de 30, após uma operação mal sucedida no hospital militar, Olívia convida Eugênio a sua casa e passam uma noite de amor. Dias depois, Olívia recebe uma proposta para trabalhar em Nova Itália, e novamente se entrega aos braços de Eugênio.
Durante um atendimento médico, Eugênio conhece Eunice Cintra - filha de um riquíssimo proprietário. Eugênio casa-se com Eunice com objetivo único de ascender socialmente. O sogro trata de arranjar um emprego de fachada ("assinar documentos") numa de suas fábricas. Eugênio começa a freqüentar a alta sociedade, mas não se sente parte dela. O seu complexo de inferioridade aumenta ao ver os contrastes desse outro mundo, de emoções contidas, de meias-palavras. Conhece pessoas como Filipe Lobo, construtor obstinado a construir o "Megatério", um arranha-céu, mas não se importava com a família. Infeliz e perturbado, Eugênio reencontra Olívia que lhe apresenta a sua filha, fruto do último encontro dos dois, Anamaria. Ao chegar no Hospital onde estava Olívia, recebe a notícias de sua morte.
A segunda parte passa-se após a morte de Olívia e é intercalada com a leitura das cartas que ela escreveu para Eugênio sem nunca ter enviado. Eugênio toma coragem e separa-se de Eunice - apesar de todos os incovenientes sociais. Vai além, passa a ser um médico popular, com idéias de socializar a medicina. Trabalha com o Dr Seixas, um velho médico que sempre atendeu aos pobres. A memória de Olívia, nas cartas, nas fotos ou no olhar de Anamaria, o fortalece quando pensa nas dificuldades.

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Terminado em 29/05/2010


Meio atrasadamente, como vem sendo de meu feitio, terminei de ler o livro do mês do clube do livro em cima da hora. Era "Olhai os lírios do Campo" de Érico Veríssimo, de quem nunca tinha lido nada anteriormente e de quem não tinha boa impressão - maldita reserva que tenho com os escritores brasileiros. Este foi também uma grata surpresa, a leitura flui fácil e o personagem principal, é retratado com tanta profudidade que é impossível não mergulhar em seus pensamentos e sentimentos - cuja narração e descrição tomam boa parte das páginas do livro.


Meu comentário no clube:

"Quanto ao livro do mês - passado. AINDA estou lendo (nem vi o comentário de vocês para evitar os spoilers), não avancei muito - segundo a previsão do próprio, ainda faltam uns 10 minutos para o Genoca chegar ao hospital onde Olívia jaz moribunda (esperançosamente).
O que dizer? Gente, EU SOU O GENOCA.
Nada lisonjeiro, eu estou odiando o cara, mas me reconheci MUITO nas fraquezas, incertezas, ódios, covardia... não tanto hoje, mas a Tati de outrora, nossa, eu era muito Genoca... a ponto de muitas vezes, do nada, sentir meus olhos cheios de água por 'sentir DÓ do mundo' (quem era eu pra sentir dó de alguém, senão alguém muito presunçoso?). Eu sempre senti também que o mundo me devia algo. Eu também nunca encontrei deus. Aquela coisa de usar as pessoas para tentar se autoafirmar, automelhorar, e sempre frustrado porque não conseguia, era muito eu. No entanto, eu nunca cedi à ambição deslavada. (ponto pra mim?)
De cara, detestei a idéia de ele ser adúltero e tal, mas ao mergulhar realmente na narrativa dele, acompanhar os passos de toda a jornada, impossível continuar odiando, pelo menos para mim, não se reconhecer. Ainda condeno muitas das coisas que ele fez, acho que do 'alto' de meus 30 anos eu desenvolvi uma certa dose de conformidade com esta anomalia emocional, que culminou até com uma coragem em combater este impulso natural para a desistência, apatia e subconsideração de mim própria, o que tem me feito até que me sair bem vida afora. Mas foi uma surpresa conseguir me identificar.
Estou gostando mesmo da narrativa do Érico Veríssimo, novamente achei que era maçante, clássico, pesado e difícil, e AMEI aquela frase no começo "O Genoca tá com as carça rasgada no FIOFÓ" (ri moooito!), tem até que corrido leve e fácil.

Ainda não sei ao certo o que vai acontecer, não sei se vou continuar a me identificar daqui pro final, mas queria dividir com vocês esta minha impressão 'inicial', que foi bem forte.



Alguns dias depois, após terminar de ler....

Olá amiguinhas

Terminei de ler os dois que estavam engatilhados. Crime e Castigo no domingo e ontem, terminei o Olhai os lírios do campo.

Não sei se por ter lido os dois 'ao mesmo tempo' eu notei muitas semelhanças entre as duas estórias (embora obviamente com diferença na narrativa e ambientação). Ambas se tratam de narrativas quase que exclusivamente psicológicas (Dostoiévski vai tão ao fundo no psicológico de Raskolnikóv que chega a dar raiva - rs), ambas tratam do conflito entre racionalização e idealização levado ao extremo, ambas trazem autênticos anti-heróis (pelo menos de início) que erram feio e pagam esse erro página a página, sofrendo duras consquências. E o desenrolar de ambas mostram uma revitalização, uma reconstrução emocional muito comovente (neste caso, Veríssimo muito mais romântico e esperançoso do que Dostoievski).

Sobre o 'olhai os lírios do campo' achei muito comovente a reconstrução emocional do Genoca, aquela paz que ele alcançou diante da vida, dos problemas, de si mesmo no final da estória é meu sonho de consumo. Um dia chego lá =} (aliás, muito obrigada pelas msgs de apoio pela minha auto-análise da msg anterior... postei e fiquei temerosa de ter exagerado na auto-exposição, mas a acolhida de vocês me deixou muito mais tranquila, valeu mesmo!)

Amei a personagem rabugenta do Dr. Seixas, com sua sabedoria e pessimismo - a seu modo também atingindo paz, embora de forma oposta a Eugênio.
Amei o modo como a paternidade mudou a vida do Eugênio, Ana Maria como catalisadora das mudanças que Olívia tinha começado (Olívia me pareceu um pouco 'santa demais' pro meu gosto, um autêntico espírito mui iluminado que fica meio difícil de achar crível - talvez porque nem o Eugênio sabia muito da vida anterior dela, afinal, ela deve ter errado, se sentido fraca, talvez se isto tivesse sido mais explorado, ela fosse mais 'humana' para mim) de qq forma, a Ana Maria na estória foi tudo de bom, depois que virei mãe fiquei muito bundona em relação a isso, não resisto à estórias que mostram esta cumplicidade entre pai e filha (em especial), coisa que não me comovia particularmente quando mais nova. Lembro que a coisa que mais amei no livro "A menina que roubava livros" foi isso, a relação entre o pai e ela, o modo como ele ensinou-a a ler a paciência dele tão diferente da mãe, então as passagens do Veríssimo que narrava a relação entre Ana Maria e Eugênio me comoveram até as lágrimas (no final, em pleno expediente de trabalho).
Amei demais o modo (um tanto utópico) como ele se manteve solitário, em paz, totalmente voltado à filha e não tendo saído correndo atrás de um novo amor, se me faço entender.
Nota 10, de coração.

Só ficou faltando ele reencontrar Ernesto, né?

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