domingo, 2 de dezembro de 2012

A menina que roubava livros, Markus Zusak


Esta semana (03/02/2010), aproveitando uns dias de pouco movimento lá no serviço, consegui ler A menina que roubava livros do australiano Markus Zusak. Li em ebook, levei apenas algumas horas por três dias. Gostei muito. O livro é narrado pela Morte (o que já é - por si só - tentador o suficiente para convencer a gente a pelo menos ver do que se trata).
É uma estória muito triste, e assim como O Caçador de Pipas, me deixou com o coração apertadinho: primeiro porque a personagem principal é uma garotinha de 10 anos (impossível não se emocionar tendo uma filha! a gente sempre acaba transportando aquilo que lê para a nossa vivência, por algum mecanismo misterioso do cérebro) e segundo, a menina é uma alemã em plena segunda guerra mundial, que por si só já é um assunto pra lá de espinhoso.
A estória é narrada pela Morte, que cruzou o caminho de Liesel Meminger por 3 vezes, e interessou-se pela vida da garota, como distração de seu trabalho constante (conforme ela mesmo afirma, a Morte não pode tirar férias - afinal, quem lhe faria o serviço? - suas férias então são os períodos de distração em que interessa-se pela história de um ou outro humano, que lhe tira momentaneamente o foco de seu trabalho inglório).
Liesel é a roubadora de livros do título. Uma garota de 10 anos que vê o irmãozinho morrer quando ambos estavam a caminho do lar adotivo, entregues por uma mãe tão indiferente quanto incapaz de criá-los. Liesel então é entregue ao casal Rosa e Hans Hubermann cheia de medos e incertezas, num período pré-guerra que certamente vinha anunciando maus ventos. A aparente rudeza de Rosa esconde o coração grande de alguém que "é boa nos momentos de crise", Hans é pintor, vive desempregado (e ouve um bocado de sua esposa, por conta disto) e toca acordeão. Desde o início ele toma para si a tarefa de criar, educar e amar a garota, enquanto Rosa tenta fazer o sustento da família com os parcos recursos vindo de seu trabalho como lavadeira entre muitos xingamentos e pouca comida. Muito pacientemente, Hans ensina Liesel a ler, embora ele mesmo saiba muito pouco (a paciência e o amor dele como pai dela é comovente demais, o amor e confiança cegos dela nele é de partir o coração de qualquer mãe). Após dominar a leitura e descobrir a força e o poder das palavras, a menina entende e nos faz entender um pouco mais através de sua visão o que era a guerra que estava batendo às suas portas.
Muitas personagens vão aparecendo e desaparecendo ao longo da trama, que no final das 353 páginas só cobrem 4 anos da vida da menina, personagens lindas, fortes, sensíveis. através de paisagens frias, sangrentas, dolorosas. No final, todos morrem - como não poderia deixar de ser - mas as vidas que deixaram para trás ainda ficam brilhando um tempão no coração de quem termina de ler as páginas.
Só fica a ressalva: ODEIO finais ambíguos e até agora estou encafifada porque o autor não deixou claro com quem foi que Liesel se casou e teve 3 filhos... eu torço, torço, torço para que tenha sido Max, mas... nunca vou saber e isto é injusto! rs
Rumores correm de que farão um filme em breve... vamos ver.


PEQUENO AVISO SOBRE RUDY STEINER

Ele nao merecia morrer como morreu.

Em suas visões, você vê as bordas empapadas do papel, ainda grudadas em seus dedos.

Vê uma franja loura tremendo. E conclui antecipadamente, como faria eu, que Rudy morreu nesse mesmo dia, de hipotermia. Pois não morreu.

Esse tipo de recordação só me faz lembrar que ele não merecia o destino que teve, pouco menos de dois anos depois.

Em muitos sentidos, levar um menino como Rudy foi um roubo — tanta vida, tanta coisa por que viver —, mas, de algum modo, tenho certeza de que ele teria adorado ver os escombros assustadores e a inclinação do céu na noite em que se foi. Teria gritado, rodopiado e sorrido, se ao menos pudesse ver a roubadora de livros apoiada nas mãos e nos joelhos, junto a seu corpo dizimado.

Teria ficado contente em vê-la beijar seus lábios poeirentos, atingidos pela bomba.

E, eu sei.

Na escuridão de meu coração tenebroso, eu sei. Ele teria adorado, com certeza.

Viu?

Até a morte tem coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário