sábado, 7 de março de 2015

Reze pelas mulheres roubadas / A morte de Sarai / Desaparecidas

Por falar em Livros...

Em Fevereiro/15 li 3 livros sobre os quais gostaria de discorrer um pouquinho, embora de autores, narrativas e enfoques diferentes, tem um mesmo plano de fundo: o sequestro de mulheres para escravidão sexual.

O primeiro que li, foi o excelente "Reze pelas mulheres roubadas", da Jennifer Clement.


Contundente retrato do México atual, Reze pelas mulheres roubadas mostra a dura vida das mulheres na região de Guerrero, a mesma onde mais de 40 estudantes foram mortos em 2014. Narrativa ficcional escrita a partir de mais de 10 anos de pesquisas da autora, o livro acompanha a história da menina Ladydi, que aos 11 anos vê sua melhor amiga ser roubada para o harém de jovens escravas de um chefe do narcotráfico. É para evitar esse destino que as mulheres da região, e de outros recantos esquecidos pelos governos, deixam de frequentar a escola, cortam os cabelos ou até mesmo se mutilam, a fim de ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico. Escrito em tom de observação antropológica, sem qualquer julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, Reze pelas mulheres roubadas foi aclamado pela crítica no México e nos Estados Unidos.


Devo confessar: Tenho pavor do México. (coff meu marido diria: "fica vendo video de decapitação na internet, dá nisso" coff) Los Zetas, coisa e tal. Pavor mesmo, acho que não iria para o México nem que me pagassem. Comecei a ler este livro, achando que ia ser documentário, em tom de reportagem (não presta atenção nas sinopses... não presto mesmo! Já me deparei com tantas sinopses com spoilers que atualmente só passo os olhos para apreender o clima e não fico lendo muito profundamente para não me frustrar com revelações indesejadas).  
Mas então, foi uma grata surpresa me deparar com uma ficção dinâmica, com um humor ácido permeado por um pungente apelo sentimental (ainda que nada gratuito). 
Retrata a história de Ladydi e da comunidade de mulheres de Guerrero, que são vitimas, mas não indefesas ou resignadas. Elas lutam! Elas refletem! Elas tentam. Mesmo a mais analfabeta, solitária e despretensiosa mulher da comunidade tem uma sabedoria tão cínica que é apaixonante. 

Guerrero e uma comunidade só de mulheres. Por ficar próxima a fronteira com os EUA, todos os homens de lá, mais cedo ou mais tarde, acabam partindo para ir tentar a vida do lado de lá da Fronteira. Alguns morrem, alguns conseguem. Os que conseguem, jamais voltam. Os que voltam uma ou duas vezes, trazem dos EUA algo mais do que alguns miseráveis dólares: AIDS, por exemplo. Miss Marple diria: a natureza humana sendo como é... e ela estaria mais do que certa. Algumas coisas só "servem" dentro de uma perspectiva limitada. Abertos os horizontes para perspectivas mais amplas, o ser humano é mais do que eficiente em justificar suas próprias tendências de fazer o que lhe é mais conveniente em todas as situações, mesmo que isto o torne um monstro que abandona a família em um lugar miserável, para nunca mais voltar, nunca mais ligar.
Além da falta de figuras masculinas, (ou talvez até mesmo por isto), Guerrero é constantemente saqueada por gangues de narcotraficantes, que raptam garotas de dez, doze anos para fazerem parte de seus haréns. Por conta disto, todas as garotas do vilarejo, desde bebês, são disfarçadas de garotos. Diz-se que todas as crianças de Guerrero são meninos, mas que desaparecem misteriosamente aos 10/11 anos. Cabelos sempre curtos, dentes esfregados com substâncias para que pareçam podres, tudo para enfeiá-las, descaracterizá-las como mulheres (vítimas) em potencial. Quando a natureza de desenvolve, e os contornos do corpo feminino ficam evidentes demais para serem disfarçados, é só desespero. Elas vivem em estado constante de alerta para a chegada ou passagem de carros para esconderem-se em buracos no solo, tudo para os traficantes não vê-las, não levá-las.

Apesar disto, Ladydi é uma garota que pensa. Acompanhamos livro afora suas aventuras e desventuras e, com o plano de fundo delineado pela autora, vislumbramos fatores psicológicos inerentes a uma vida cheia de rancor, sem perspectiva alguma, cheia de violência. Mas ainda com alguns sonhos simples, desejos normais - pelo menos normais para nós, que vivemos em constante abundância. E em meio a tamanha falta de recursos e em circunstâncias tão estranhas, a força feminina se ergue, como um pilar, um monumento de protesto em meio a um mundo onde somente os homens tem direito de vislumbrar um futuro diferente. 
O livro é curtinho, e vale muito ser lido. 
Deixa aquele gosto amargo na boca ao tentarmos imaginar quantas Ladydis existem por aí, no México, ou no resto do mundo. 
Dentro de todas nós.

***

No embalo do livro anterior, li a sinopse abaixo e resolvi emendar uma leitura na outra. "A Morte de Sarai, de J.A. Redmerski"

A Morte de Sarai - A autora do best-seller de "Entre o agora e o nunca" e "Entre o agora e o sempre" traz uma história de paixão e sobrevivência.

Sarai era uma típica adolescente americana: tinha o sonho de terminar o ensino médio e conseguir uma bolsa em alguma universidade. Mas com apenas 14 anos foi levada pela mãe para viver no México, ao lado de Javier, um poderoso traficante de drogas e mulheres. Ele se apaixonou pela garota e, desde a morte da mãe dela, a mantém em cativeiro. Apesar de não sofrer maus-tratos, Sarai convive com meninas que não têm a mesma sorte. 

Depois de nove anos trancada ali, no meio do deserto, ela praticamente esqueceu como é ter uma vida normal, mas nunca desistiu da ideia de escapar. Victor é um assassino de aluguel que, como Sarai, conviveu com morte e violência desde novo: foi treinado para matar a sangue frio. Quando ele chega à fortaleza para negociar um serviço, a jovem o vê como sua única oportunidade de fugir. Mas Victor é diferente dos outros homens que Sarai conheceu; parece inútil tentar ameaçá-lo ou seduzi-lo. 

Em “A morte de Sarai”, primeiro volume da série Na Companhia de Assassinos, quando as circunstâncias tomam um rumo inesperado, os dois são obrigados a questionar tudo em que pensavam acreditar. Dedicado a ajudar a garota a recuperar sua liberdade, Victor se descobre disposto a arriscar tudo para salvá-la. E Sarai não entende por que sua vontade de ser livre de repente dá lugar ao desejo de se prender àquele homem misterioso para sempre.


Não sei se eu ainda estava sob impacto do livro anterior, neste tema, acho que acabei me iludindo com a sinopse e esperando demais. 
O comecinho é bom, promete uma leitura bacana. A mocinha, Sarai, empreende uma fuga espetacular de seu local de cativeiro (o harém de algum narcotraficante no México) onde era mantida cativa há 9 anos. Para fugir, ela engenhosamente esgueira-se por alguns capangas que montavam guarda e esconde-se, armada, no soalho do carro de um sujeito misterioso que estava no local fechando negócios escusos com o chefão do tráfico. Ela não sabe quem ele é, nem quer saber, só sabe que passam-se meses sem alguém de fora aparecer por ali, e aquela é sua única chance de escapar de lá. Tem a arma, que está disposta a usar para convencer a pessoa a ajudá-la a escapar. Vagamente tem como objetivo cruzar a fronteira com os EUA. Mas não tem certeza se é para lá que quer ir, aliás, a Sarai não tem certeza de nada.

Não sei se, pela temática ser YA, a autora não ousou aprofundar os anos de cativeiro da Sarai. Se tivesse arriscado a descrever algumas torturas, flashbacks de alguns acontecimentos de seu dia a dia como escrava sexual de um narcotraficante, teria dado mais profundidade, dimensionalidade ao emocional meio capenga da personagem. O lema todo do livro pode ser resumido com o velho cli-CHE: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Sarai é terna, é a típica mocinha de coraçãozinho nos olhos, meiga, inteligente, sensível... as circunstâncias da vida, e toda a crueldade humana que ela presenciou (contra si e outras meninas) a forçaram a endurecer. Só que ela não endureceu direito. Parece que a personagem é só máscara, não tem conteúdo. Aí fica difícil comprar a história, partindo de premissas tão capengas.

Convenhamos: Saraí é CHATA! É confusa! Quer uma coisa, faz outra. Quer fugir, no meio do caminho quer voltar para ajudar à amiga que ficou para trás. Quer tentar vida nova, bem longe - nos EUA talvez - estudar, viver bem, dignamente, mas aí no meio do caminho, do nada, decide que quer virar uma matadora de aluguel, assim como o cara (o anti-heroi misterioso tipicamente clichezistico) que a ajuda (ainda que relutantemente) a escapar. Mas aí, decide que não consegue (ah, os princípios!) matar qualquer um, só pode (quer/consegue) matar os badboys - detalhe: seu radar para os verdadeiros badboys livro afora é PÉSSIMO!. 
Ela é daquela personagem chata que, em situação de perigo, alguém lhe diz: "fique aqui e não se mexa", e é claro, que, assim que esta pessoa sai do recinto, ela enfia a carona na janela, tosse, espirra e peida chamando atenção e desencadeando um tiroteio onde morrem n pessoas. Menos ela. 

Pelo menos o livro é curto. 

***

Fevereiro, em um dos clubes de leitura que participo no Facebook, a autora do mês foi a Tess Gerritsen. Eu adoro thrillers policiais, sejam filmes, séries e - descobri - livros. Já havia lido há alguns anos o livro O Cirurgião, que é o primeiro da série Rizzoli & Isles. E, apesar de ter gostado, não tinha me despertado nada de "oooooohhhhhh, que fantástico", a ponto de me fazer querer ler os outros. Quando apareceu este desafio no grupo, resolvi ler o segundo da série, que, confesso, gostei, mas também não achei ooooohhhh... A questão é que, compartilhar instantaneamente a experiência de leitura com outras pessoas é tão legal que acaba te incentivando e estimulando. Acabei o segundo e fui para o terceiro (devido ao entusiasmo de uma outra colega que conseguiu ler 6 (!!) livros da autora no período, e falava maravilha deles. Encurtando um pouco, cheguei ao quinto livro da Série Rizzoli & Isles:


Sinopse: Desaparecidas - Considerada o grande nome do thriller médico, a verdadeira herdeira de Robin Cook, Tess Gerritsen nos traz este novo e assustador sucesso. Aquela mulher parecia ser mais um corpo na mesa fria do necrotério. Mas quando a legista Maura Isles inspeciona o cadáver, algo assustador acontece: a mulher abre os olhos. Ainda viva, ela é levada rapidamente para o hospital. Mas o bizarro logo se transforma em perigo. Com uma precisão chocante, ela mata um segurança e faz reféns... um deles, uma paciente grávida. Quem é essa pessoa violenta e desesperada, e o que ela quer? 


Dos 4 livros da autora que li no período, este foi o que eu mais gostei. (mas isto é meio suspeito, porque, após o segundo, vai ficando um livro melhor que o outro, e eu só consegui chegar ao quinto. Talvez o sexto seja melhor. Este mês, mudou o autor). 

Ainda na temática tráfico de mulheres, este tem como plano de fundo mulheres da União Soviética  que são enviadas ao EUA, com a promessa de bons empregos em casas de família, mas que acabam sendo enviadas para prostituição em regime de escravidão. A vida de um grupo destas mulheres é retratado em capítulos alternados (em forma de flashbacks) de forma crua e honesta (construindo camada a camada a dimensionalidade das personagens). Desde o desembarque em terras americanas, passando pela percepção do que realmente iria acontecer com elas, até o dia a dia, humilhações e torturas a que tinham de se submeter, tudo entremeado com capítulos cujo enfoque é o ponto de vista de Maura Isles, e outros da Jane Rizzoli.
A parte isto, o livro apresenta tramas paralelas que cativam e intrigam. Não dá para discorrer muito sem revelar informações e interligações importantes (como todo bom thriller policial) mas me encantaram especialmente a questão maternidade x vida profissional levantadas pela Rizzoli mais para o final.

Agora tenho de me focar em John Grisham. Mas retomo a Tess assim que puder, viciei em suas personagens e intrigas! Maura Isles rocks a lot  <3


Nenhum comentário:

Postar um comentário