I
Quinto Papel. Montanha da Caveira. Lago Pacífico.
Ao menos de uma certa maneira, nossas vidas são realmente iguais a um filme. O elenco principal é formado por nossa família e amigos. O elenco coadjuvante é composto de vizinhos, colegas de trabalho, professores, e outros relacionamentos diários. Há também personagens de pouca importância: a garota do supermercado com o sorriso bonito, o atendente amigável do boteco local, os caras que malham na academia três vezes por semana. E há milhares de figurantes – aquelas pessoas que fluem ao longo de toda a nossa vida, como água flui de uma fonte, aquelas que vemos somente vez, para então nunca mais. O adolescente vasculhando entre as revistas em quadrinhos na livraria, aquele em quem a gente esbarra (murmurando “com licença”) para chegar até as revistas. A mulher parada em um semáforo do próximo cruzamento, aproveitando o momento para retocar o batom. A mãe que limpa o sorvete do rosto de seu filho em um restaurante de beira de estrada, onde paramos para um lanche rápido. O vendedor que nos vende um saquinho de amendoins no jogo de beisebol.
Mas às vezes, uma pessoa que não se enquadra em nenhuma destas categorias entra em nossa vida. É o coringa que salta das cartas em intervalos irregulares, através dos anos, geralmente em um momento de crise. No cinema, este tipo de personagem é chamado de quinto papel, ou, agente transformador. Quando aparece em um filme, sabemos que lá está porque o roteirista o colocou. Mas quem é o roteirista de nossas vidas? Destino ou coincidência? Eu quero acreditar que é este último. Quero isto do fundo do coração e alma. Quando penso em Charles Jacobs – meu quinto papel, meu agente transformador, minha nêmesis – eu não suporto acreditar que sua presença em minha vida tenha algo a ver com destino. Isso significaria que todas estas coisas terríveis – estes horrores – estavam destinados a acontecer. Neste caso, então não existe luz, e a nossa crença nela é uma tola ilusão. Neste caso, vivemos na escuridão como animais em uma toca, ou formigas profundamente afundadas em seu formigueiro.
E não estamos sozinhos.
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