SUA VIDA EM PRIMEIRO LUGAR
208 páginas
Ed. Sextante
Trechos do livro "Sua vida em primeiro lugar", de Cheryl Richardson
Trecho 1: Os sete obstáculos
Ao longo do tempo, identifiquei os principais obstáculos que impedem as pessoas de viver a vida da forma que desejam:
1. Para você, "egoísmo" é um palavrão. Você tem dificuldade de colocar suas necessidades em primeiro lugar, mas em geral os compromissos os compromissos que assume provocam ressentimento e frustração.
2. Seu horário não reflete suas prioridades. Você acaba o dia em total estado de exaustão e nunca tem tempo para as coisas que considera mais importantes.
3. Você tem a sensação de que pessoas, lugares e coisas desgastam suas energias. Sua vida parece uma longa e infindável lista de obrigações. Seu escritório precisa ser organizado, sua casa arrumada, e, por mais que você faça, há sempre alguém se queixando de você.
4. É o dinheiro que domina você. Você se cansou de não conseguir fazer as escolhas que quer por causa de restrições financeiras. As dívidas se acumulam, você não sente satisfação com a forma como gasta seu dinheiro e, por mais que se esforce, não consegue viver dentro dos seus rendimentos.
5. A adrenalina tornou-se seu principal combustível. Você está constantemente pulando de um compromisso para outro. Gostaria de relaxar, mas não consegue diminuir o ritmo. Paz de espírito parece uma meta impossível de atingir.
6. Você sente falta de um grupo de amigos, de uma comunidade que Ihe dê apoio. Você se sente só e desejaria se ligar a outras pessoas com cabeça igual à sua.
7.Sua paz de espírito fica em úItimo lugar nessa vida ocupada. Você gostaria de passar um bom tempo meditando, rezando, praticando ioga ou outras formas de prática espiritual, mas seu tipo de vida não permite isso.
Esses são os sete blocos de problemas que, se forem tratados com cuidado, podem ser facilmente mudados. Superar esses obstáculos é a intenção deste livro. Se você tiver a disposição para empenhar-se e investir seu tempo (que este livro ajudará a encontrar!) e energia nesse processo, eu prometo que sua vida mudará incrivelmente.
Trecho 2: "Sua vida não é o seu trabalho"
Depois de uma crise pessoal ou depois de ouvir bastante sua voz interior, você começa a reavaliar sua vida profissional: "Eu me sinto realmente feliz com todo este trabalho?", "Qual é o retorno do meu investimento de tempo e energia?". Ao responder essas perguntas, você começa a perceber que a vida oferece muito mais do que trabalho e negócios.
Vivemos numa cultura que valoriza excessivamente o trabalho e avalia as pessoas por seu sucesso profissional. Eu vejo isso nas pessoas que me procuram pedindo ajuda para construir uma carreira que preencha seu "objetivo de vida". Ou nos empresários ansiosos para chegar à "receita ideal" para poderem "viver a vida que merecem". Posso Ihes garantir uma coisa: esperar que seu trabalho Ihe proporcione uma realização profunda é uma armadilha, além de ser um engano total. Você acaba investindo tempo e energia demais nisso, buscando desesperadamente uma coisa que não pode ser encontrada ali - a vida.
Ao nos centrarmos prioritariamente no trabalho, perdemos o contato com nós mesmos. Ficamos sem almoço ou comemos às pressas, fazemos negócios dirigindo o carro e e pouco convivemos com nossos filhos. Mal temos tempo para nós mesmos, que dirá para aqueles que mais amamos. Cecile Andrews, no seu livro The Circle of Simplicity (O Círculo da Simplicidade), escreve que "os casais conversam em média dooze minutos por dia e brincam com os filhos quarenta minutes por semana".
Os clientes que vêm pedir meu apoio dedicam ao trabalho, em média, cinqüenta e cinco a oitenta horas por semana (incluindo transporte, tempo real de trabalho, leitura e preparação). Esse estilo de vida tem seu preço. Meus clientes vivem exaustos com essa escalada profissional e a obrigação de equilibrar trabalho e família. Estão cansados do emprego que exige que eles se esqueçam dos seus valores e do cuidado com eles mesmos em troca de um cargo e um salário. E estão cansados de trabalhar longas horas sem conseguir atingir sua meta, sem se sentirem valorizados.
As férias tornaram-se períodos de recuperação, em vez de lazer e recreação. E aquelas poucas semanas por ano não são suficientes. Se a vida dos meus clientes servir de alguma indicação, a porcentagem de tempo gasto no trabalho está em alta, diminuindo progressivamente o tempo livre.
Mesmo o aumento de doenças ligadas ao estresse - como problemas cardíacos, fadiga crônica e câncer não é suficiente para mostrar às pessoas que a vida centrada no trabalho não funciona, levando-as a cair fora desse estilo de vida. Por que será tão difícil começar a colocar suas necessidades em primeiro lugar?
Várias razões são alegadas: o desejo de dar aos filhos uma boa educação, a vontade de morar nas áreas mais nobres da cidade, o medo de perder o emprego. Ou ainda o fato de as pessoas buscarem sua identidade e felicidade no ''ter mais": o salário mais alto, o emprego melhor, mais bens materiais e férias mais dispendiosas. Mas, a essa altura, a maioria das pessoas já começa a perceber que "ter tudo" não resolve a situação. Um emprego com um salário fantástico e grande prestígio pode trazer uma certa felicidade. Mas traz também muita responsabilidade e alto nível de estresse, fazendo a pessoa sentir-se vazia e fora de contato com o que realmente é importante.
(...)
George Leonard, um pioneiro no campo de potencial humano, declarou que 48 por cento dos 4.216 executivos que entrevistou achavam sua vida vazia e sem sentido, apesar de anos de esforço profissional. Esse vazio é, em geral, marcado por uma tristeza subjacente que, segundo um cliente, sobe à superfície e se manifesta quando ele diminui o ritmo de trabalho. Outro cliente, um médico de 47 anos, depois de quatro anos de trabalho contínuo, finalmente tirou uma semana de férias, sozinho, sem fazer nada. Ele me disse: "Fiquei surpreso ao ver que tinha vontade de sentar e chorar. Não sei por que, mas senti uma tristeza enorme, uma sensação de perda por estar jogando minha vida fora. Outra cliente admite que é perseguida por um "sentimento constante de solidão", apesar de viver cercada de gente.
Esses sentimentos talvez sejam a razão de as pessoas se manterem tão ocupadas. Diminuir o ritmo significa soltar as emoções presas, acumuladas ao longo do tempo. Mas sentimentos de solidão e tristeza são normais quando você se dá o direito de sentir. Pode ser experiência assustadora parar e perceber que sua vida está passando sem que você tenha controle dela.
Quando chegamos no fim do dia exaustos, não temos energia alguma para gastar com nós mesmos. Minha cliente ia, mãe de duas crianças, que trabalhava em horário integral, falou: "É claro que sinto falta dos amigos, mas no final do dia estou tão cansada, que a última coisa que quero fazer é conversar. Quando alguém me liga para bater papo, eu não acho a menor graça."
Outra razão para os meus clientes continuarem a trabalhar demais é não saberem o que fazer com o tempo. Janice percebeu isso no início do treinamento. Ela era uma relações-públicas muito animada e extrovertida. Passava os dias visitando os clientes, bajulando os contatos da mídia e planejando novas campanhas. Era sempre o centro das atenções e ótima em tudo o que fazia. Aos 41 anos, parecia estar no topo do mundo. Fazia viagens internacionais, hospedava-se nos melhores hotéis e tinha uma lista de clientes que queriam contratar seus serviços. Mas a vida que a Janice sonhava era bem diferente.
Na privacidade do consultório, Janice confessou que sua "imagem pública" era uma máscara que ela colocava toda manhã antes de sair para o trabalho. Por baixo dessa máscara havia ma mulher jovem e assustada. Bem-sucedida, mas com um enorme vazio interior. Apesar de sua trajetória de sucesso, Janice estava aos poucos perdendo o gás, com medo de cair doente por conta desse ritmo acelerado. Ela trabalhava quase todas as noites, dificilmente dormia bem e vinha reagindo com exagero aos menores erros cometidos por sua equipe. Dizia que se sentia "morta" por dentro, como se seu "entusiasmo pela vida tivesse desaparecido".
Quando eu pedi que ela pensasse nas mudanças que teria de fazer para colocar sua vida em primeiro lugar, Janice respondeu: "A verdade é que, quando me pergunto o que faria se não estivesse trabalhando, fico horrorizada ao ver que não sei o que responder." Foi preciso que Janice se ouvisse dizendo a verdade em voz alta para começar a trabalhar seu problema. Ela estava pronta para se colocar em primeiro lugar.
A sua vida parece um longo dia da trabalho depois do outro? Não se esqueça de que a parte mais importante da sua vida é você. Você é a soma de suas partes, e o trabalho é só uma dessas partes. Se você estiver caminhando para a exaustão, ou se já estiver lá, decida agora cuidar de si em termos prioritários, colocando-se no alto da lista de "coisas a fazer"!
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6 ... 61,00.html
Uma colega de trabalho me emprestou este livro, numa destas coincidências da vida...
Eu não gosto de livros de auto-ajuda, mas sei lá, este me deu um bocado de coisas no que pensar. Obviamente não resolve todos os problemas do mundo, mas dá um belo de um cutucão, apresenta alguns conceitos dignos de reflexão. Fora que a linguagem da autora é algo como uma tia empática e carinhosa validando e acalentando a gente (pelo menos eu senti isto, ainda mais neste momento tão conturbado). Vários relatos, exemplos e dicas de como incorporar mudanças simples e mais complexas ao dia a dia. Bem como alguns dos motivos mais comuns de auto-sabotagem resistência a mudanças. Gostei bastante, embora não me encaixe no público-alvo da autora: executivos e bem-sucedidos em geral.
Bem legal.