Nunca faço grandes planos para esta época (questionavalmente) festiva que é o Carnaval, mas o feriado é muito mais do que bem-vindo! Pretendo curtir minha melhor viagem: leitura (tchan-naaaannnnn!!!). Estou com alguns livros começados, e pretendo terminar pelo menos três neste feriado, será que consigo?
Deixo uma resenha do Sr. Mercedes, que estou devendo há meses. Comecei a escrevê-la para participar de um concurso no Face, mas ela não atendeu aos critérios exigidos para participar, mesmo assim fiquei com dó de descartar... Então vamos lá.
Leitura, a melhor viagem!
Carnaval... é uma data tão marcante da cultura brasileira,
que é até complicado para quem não curte a folia se desvencilhar deste
rótulo que recai em cima de um país inteiro aos olhos do mundo, por conta de características
folclóricas populares tão marcantes: carnaval e futebol. Para alguém que, como
eu, não curte nem uma coisa, nem outra, acaba sendo até difícil demonstrar que
não é bem assim e que nosso povo é muito mais do que esta população
erótico-desenfreada que curte requebrar o esqueleto ao som de um tum-tum-tum sem
sentido ou que acredita que só se pode ser “rei” com uma bola no pé. Gosto de acreditar que somos um povo com muito mais gostos do
que isto (e desgostos também!). Que é possível ter talento para muito mais coisas
além disto...
Se neste Carnaval você também está integrando o rol dos que não
curtem tumulto e não tiveram como viajar, abra um livro e permita-se viajar sem
sair da poltrona, conhecer outros lugares, sentir o ritmo de uma boa narrativa dominar
seus sentidos e até viver outras vidas...
Peguem suas máscaras!
(Ou livrem-se
delas...)
Para esta resenha, escolhi o livro Mr. Mercedes, que li em Junho
de 2014 e reli um pouco depois.
Bom, de início eu devo admitir que, apesar de achar ótimo
dividir e compartilhar impressões, anseios e expectativas com outros fãs em
relação ao lançamento de determinada obra, uma das coisas mais legais é quando
conseguimos pegar um livro sem expectativas, sem saber o que esperar, sem ter
lido muito a respeito dele e assim, permitirmo-nos cultivar nossa própria
opinião e impressão, sem estarmos contaminados por preconceitos, opiniões de
terceiros, ou pelo o que esperávamos que aquele livro fosse.
Quando comecei a ler o Mr. Mercedes, foi assim. Consegui
lê-lo no original, assim que foi lançado. Sem saber que era a primeira inserção
do autor no mundo da literatura policial, sem saber que não encontraria
ambientação sobrenatural e que não seria um livro típico de “terror”. E não
sabia que seria o primeiro livro de uma trilogia...
Sabia que era um King. E
isto me bastou.
Em linhas gerais, o livro inicia com um ataque aleatório de
um Mercedes cinzento contra centenas de desempregados que se enfileiravam à espera da abertura dos portões de uma feira de empregos. Em poucas páginas,
duras e cruas, King consegue nos aproximar de alguns deles, identificando
alguns deles, absorvendo seus nomes e um pouco do histórico de vida, então quando vemos que
morreram oito pessoas, não são só números, são aquelas pessoas da fila sobre
as quais acabamos de ler, o Augie Odenkirk que leu "As vinhas da Ira" e que queria levar a Rosa de Sharon para tomar um café...
e, Janice Cray a mãe solteira que carregou a filhinha bebê em um sling para uma fila em uma
madrugada chuvosa e friorenta na esperança de conseguir um emprego e ter como sustentá-la.
É a bebê Patricia que não teve a oportunidade de viver tudo o que estava
destinada a viver. É um começo pungente. Atinge-nos como um soco.
A partir daí, conhecemos e acompanhamos a vida do detetive
reformado Bill Hodges, tentando acostumar-se a vida pós-aposentadoria. A beira
da depressão, divorciado e amargamente solitário, que passa suas tardes
vegetando na frente da TV em uma vida carente de sentido, de objetivos.
Descobrimos que Hodges era o detetive encarregado do caso do Mercedes
Assassino e, se aposentara sem prender o bandido, o que é uma grande frustração
em sua carreira. Certa tarde o correio lhe entrega uma carta. Carta esta que se
mostra uma verdadeira bomba. Alguém que se intitula Mercedes Assassino o
desafia, provoca e enfurece, pisando justamente em seu ponto fraco: o fato de
tê-lo deixado escapar, convidando-o para contatá-lo por meio de um site onde é
possível deixar mensagens de forma anônima. Hodges se vê, de início, descrente
sobre a identidade do Mercedes, mas com o passar do tempo, sente-se tentado a
desvendar o mistério que permaneceu em aberto no fim de sua carreira: quem era
o Mercedes Assassino? Seria possível capturá-lo? A partir da rede jogada pelo
vilão, Hodges reencontra um foco, uma razão de viver. Varre sua depressão para
debaixo do tapete e sai a caça do pior criminoso que seu departamento já viu.
Com a ajuda de um vizinho esperto, o jovem Jerome "pau-pra-toda-obra" e expert em tecnologia (como só um moderno adolescente americano de classe médio-alta consegue ser), eles se lançam a caça do Mercedes, tentando virar o jogo que ele havia iniciado contra ele próprio.
Uma coisa que eu gostei muito na narrativa é que, diferente
dos romances policiais típicos, neste, descobrimos logo no início quem é o
bandido. Ao contrário de livros da Agatha Christie e Conan Doyle, onde junto
com os detetives, somos confundidos página após página com pistas falsas lançadas a esmo pelo esperto autor, para só descobrirmos o bandido nas últimas páginas, King nos diz quem
é o assassino antes da página 50. E ao longo do livro, os capítulos
se alternam entre os pontos de vista ora do vilão, ora do herói, o que torna a
leitura bem dinâmica e acaba até nos aproximando um pouco do vilão, se não para
compreender os seus motivos, pelo menos para ter um vislumbre de seus
sentimentos, sua motivação.
O livro é bem dinâmico, tem explosão, show de rock (ainda que pop), muita investigação, tem romance (é curioso
captar uma cena “hot” em um livro do autor, ele é bem pudico) e um amadurecimento cativante das personagens. Tem partes que emocionam, tem partes que dá aquele nó no estômago de
revolta e indignação, mas mais que tudo, há aquela torcida para que os mocinhos prendam o bandido no final e que tudo acabe bem.
Livro recomendadíssimo!
Agora ficamos no aguardo do segundo volume da trilogia do detetive Bill Hodges, a ser lançada em Junho de 2015. Intitulada "Finders Keepers" (Achado não é roubado, em tradução livre). Pelo pouco que vi na sinopse, não tem nada a ver com o Mercedes Assassino. O bom é que sempre podemos contar com um livro do Stephen King para os próximos carnavais!
=)